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quinta-feira, 26 de abril de 2012

AVENTURAS GERIATRICAS - 3a. parte


Continuando com nossas atividades aqui na terra de Marlboro, apos  3 dias trabalhando para eliminar os problemas decorrentes de falta de uso e excesso de mau gosto na Wing que, por sorteio, coube ao Cyro, e que agora esta que nem pinto no lixo com sua moto,





eis que e’ chegada a hora de tio Helio se mandar para Detroit e pegar a segunda Wing.  A coisa era aparentemente simples: um voo de Charlottesville a Detroit com uma conexao em Washington DC. Chegada prevista em Detroit as 13:30 hs, encontro com o vendedor da moto, receber a moto e iniciar a viagem para Charlottesville (cerca de 600 milhas) as 14:30 hs no maximo. Bem, para inicio de conversa quase fui preso no aeroporto de Charlottesville. Acontece que eu, macaco velho que sou e orientado pelo Comandante Cyro, levei algumas ferramentazinhas basicas para a viagem de volta, ferramentas estas que dispararam um alarme que parecia anunciar o apocalypse. Imaginem o espanto causado em um aeroporto quase rural e com pouquissimo movimento . Apos explicar o motivo das ferramentas recebi a sugestao de despacha-las como bagagem o que iria me custar 25 dolares. Como apenas 3 chaves excediam o tamanho maximo permitido para bagagem de mao e como as 3 custavam menos de 15 dolares, joguei-as no “garbage” (lixo em linguagem crista) e pronto, problema resolvido. Por enquanto, hehehehehe.

Apos embarcar com um atraso de quase 1 hora devido ao mau tempo, chego em Washington e perco a conexao por apenas 3 minutos. O proximo voo so sairia dai a 5 horas. Isso alterava todo o meu minucioso planejamento. Nesse ponto resolvo acionar  meus anjos da guarda: Cristiane e Bob, filha e genro do Cyro e o proprio Cyro. Eles refizeram todo o planejamento junto ao vendedor da moto de forma que quando cheguei a ao aeroporto de Detroit encontrei uma pickup Chevy branca rebocando uma Goldwing negra como o bigode do Sarney. Apos me apresentar ele, acompanhado  da esposa e de um amigo, levou-me ate um patio onde descemos a moto e ouvi a pergunta mais sem nexo de toda a minha vida: “-Voce quer dar uma voltinha ?”. O que responder, depois de sair de Cabo Frio e chegar na fronteira com o Canada para encontrar a danada da Camila ? Nao disse nada, subi na moto, fiz cara de motociclista, acionei a partida e sai usando toda a tecnica para evitar “micos” fora de hora. Algumas curvas para direita, outras tantas para a esquerda e deu para perceber que me entenderia muito bem a danada da neguinha. Despedi-me do Andy, o vendedor, coloquei minha bagagem na moto, coloquei a placa da Virginia que levei comigo (quando penso na burocracia do Brasil chego a tremer de vergonha) e fui em busca de um hotel pois era sabado,  20:30 hs e uma temperatura  de 8 graus centigrados.  



Domingo, apos um lauto café da manha, instalo o suporte para o GPS e percebo que a moto nao tem um isqueiro onde acoplar o carregador do GPS, afinal a moto e’ o modelo Interstate onde essas facilidades nao existem, diferente da moto do Cyro, uma Aspencade, que tem nada menos de 2 isqueiros alem de dezenas de outras comodidades. Bem, fazer o que alem de botar o pe’ na Estrada ? Sai de Detroit seguindo o GPS (que ainda tinha carga) e debaixo da maior ventania pego o rumo de casa. Nao andei mais do que duas milhas e meus bracos comecaram a doer mais do que a velhice justificava: o guidon estava posicionado para para uma pessoa de baixa estatura, o que era o caso do ex-proprietario, que alem de baixinho tinha o habito, segundo me contou, de colocar um chapeu de cow-boy, os pes naqueles ridiculos estribos que colocam no mata-cachorro alem de um charuto ( este ultimo creio que na boca)  e ficar dando voltas no quarteirao para impressionar os vizinhos. Parei a moto em um posto de gasolina, debaixo de um vento gelado cortante e com as ferramentas que levei consegui regular o guidon a meu gosto. A pilotagem ficou muitissimo mais gostosa, embora estranhando um pouco fui me soltando e em pouco tempo estava acompanhando o fluxo a 70 / 75 milhas sem problemas e com bastante folga. As curvas comecaram timidas ate que encontrei o ritmo certo e passaram a ser feitas em velocidades compativeis com a qualidade das estradas. O que da’ para perceber e’ que, embora seja uma moto muito facil de pilotar nao e’ pareo para uma HD Touring em curvas pois as Wings precisam inclinar bem mais do que uma HD para fazer a mesma curva, provavelmente em funcao de seu Caster maior. Isso sem falar no som do motor pois ai’ seria covardia.

Nesse primeiro dia planejei costear o lago Erie e proximo a Cleveland pernoitar. Quando estava proximo ao meu descanso o Cyro me chama no radio  e avisa para eu fugir o mais rapido possivel daquela regiao pois a metereologia previa gelo e neve.  Ele entao deu-me uma rota que inseri no GPS e tratei de seguir, eram estradas secundarias que cortavam uma area rural belissima de Ohio mas nao cheguei a curtir a paisagem pois acabou a carga do danado do GPS. Comprei um baita mapa de papel e parava de vez em quando para encontrar a rota que o Cyro ia me ditando pelo radio como se fora um controlador de trafego aereo mal-criado.   O fato e’ que, apos 288 milhas,  consegui chegar a cidade de Mansfield (Ohio) e me aboletar no primeiro Super 8 que encontrei.

No dia seguinte, segunda-feira, debaixo de muito vento e uma temperatura de 8 graus centigrados,passei num Wall Mart, comprei um isqueiro automotivo, alguns fios, fita isolante e montei uma “gambiarra” para carregar o GPS.



O unico inconveniente e’ que tinha de parar a moto para fazer isso. De qualquer forma  iniciei a perna em direcao a Beckley (West Virginia), onde cheguei apos 360 milhas em estradas principais e secundarias conforme a orientacao que recebia e apos checar o GPS que era desligado logo em seguida para poupar bateria. Na chegada em Beckley a temperatura estava a 1 grau centigrado e a previsao para a noite era de 3 graus negativos. 



Terca-feira, acordo cedo, ligo a “gambiarra” no GPS enquanto tomo café, espero ate as 10 horas para esquentar um pouco o tempo. Essa era a ultima perna e a mais problematica pois iria atravessar as montanhas, onde poderia haver gelo, e entrar na Virginia. A Estrada e’ maravilhosa, em meio a uma area preservada com paisagens de tirar o folego. O asfalto perfeito e curvas para quem gosta e sabe faze-las, modestia aa parte. 




 Por sorte o sol saiu bem forte e nao encontrei gelo, sentia-me o dono da Estrada, nenhum motociclista encontrado, curvas para a direita e para a esquerda como manda o figurino: olhos no objetivo, rotacao do motor la nas alturas, contra-esterco, peso na pedaleira do lado interno da curva e um sorriso nos labios sabendo que estava fazendo um belo trabalho. Foi assim toda a viagem ate Charlottesville, foram 750 milhas percorridas, na maior parte do tempo com temperaturas em torno de 8 graus e ventos laterais. Nao esta de todo mau para um septuagenario, hehehehehe.
Quando chego o Cyro me da a noticia: ”-Sua moto esta sem o selo de vistoria obrigatorio, temos que providenciar isto.”. Meu Deus, pensei, pagamento de Duda, agendamento de vistoria pela internet, aguardar a emissao do DUT/Recibo, etc e tal. Principalmente etc e tal.  Acho que nem dormi direito a noite, no dia seguinte, ansioso mal tomo café e fico perguntando ao Cyro se devo procurar um despachante (juro que pensei ate mesmo em constituir um advogado pois se no Brasil  era toda aquela paraphernalia, imaginem aqui !). Que nada, apos tomar café calmamente, o Cyro pegou o carro e mandou-me segui-lo ate uma oficina proxima homologada pela policia de Charlottesville, entramos, mostrei os documentos da moto, um mecanico fez a vistoria, colou o selo na moto, paguei 12 dolares e PRONTO a vistoria estava feita. Levou mais tempo o caixa fazer o troco do que a revisao propriamente. Eles tem que vir ao Brasil descobrir como se faz...





Bem, agora tenho que parar para estudar. Sim, voces entenderam corretamente, hoje na hora do almoco o Cyro e a Cristiane chegaram com um presente para mim: inscreveram-me em um curso de motociclismo do Departamento de Transito da Virginia e que comeca a amanha com a duracao de 3 dias (2 dias aulas teoricas e 1 dia aula pratica) com direito a certificado que me garante desconto no seguro da moto.

Depois conto o resultado de mais esta peripecia.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Aventuras Geriatricas - 2a. Parte

Grande Mocada, 

Apos uma viagem de 24 horas, com direito a 3 conexoes, chegamos a Richmond onde o genro do Cyro, o Bob, nos esperava. Antes de partirmos para Charlottesville ainda demos uma passada no museu aeronautico de Richmond, afinal eu, o Cyro e o Bob somos  amantes de maquinas voadoras, principalmente as que fizeram historia.



Chegamos a casa do Bob e a primeira coisa que fizemos foi examinar a Goldwing Aspencade que coube ao Cyro. Confesso que a primeira impressao foi das piores:  um monte de equipamento cafonerrimos, bateria quase morta, sujeira impressionante, a impressao que tivemos foi que a moto ficou parada por meses em algum galpao. No dia seguinte, mal instalamos o carregador de bateria comecou a chover. Nao nos restou alternative senao colocar a moto na varanda da belissima casa da filha do Cyro (acho que seremos expulsos a qualquer momento).


Trabalhamos que nem uns loucos para arrancar toda a parafernalia que o velho dono havia colocado. Toneladas de fios que ligavam nada a coisa alguma foram retiradas. Plataformas que impediam engatar as marchas com precisao foram jogadas no lixo.

No dia seguinte o tempo deu uma tregua e conseguimos descobrir o afogador e ligar a bendita Goldwing.  Fumaceira descomunal, motor rateando e eu e o Cyro com cara de choro, mas um artista nao se impressiona com facilidade (como diria Cumeeira) e fomos a luta. A primeira coisa era decidir  quem daria a primeira volta. Disputamos no palitinho e como perdi fui obrigado a faze-lo. A moto estava uma bosta, rateava direto e estava sem forca nenhuma. Paramos de ver a parte estetica e de conforto e fomos para a mecanica: trocamos velas (apos retirar agua em torno das mesmas), reapertamos os cabos de vela (dois estavam frouxos), fizemos um reaperto geral na parte mecanica, regulamos o guidom e voltamos ao testdrive. Ah, agora sim parece uma motocicleta. A bichinha ate que nao faz feio mas esta longe, muitissimo longe de uma Harley Davidson touring. E’ ate sacanagem compara-las. A pilotagem e’ muito facil, a danada inclina uma barbaridade nas curvas (mesmo nas mais suaves) mas ainda assim nao faz curva como a HD Ultra. O painel, apesar de 1984, e’ digital. As suspensoes a ar, dianteira e traseira, podem ser reguladas independentemente com a moto em movimento (ela tem um compressor eletrico). O sistema de som tem um tapedeck alem de AM/FM tradicionais. A bichinha ainda tem um radio faixa do cidadao e sistema de intercomunicacao. Bem, o fato e’ que o Cyro esta com um sorriso de uma orelha a outra.


Eu, pelo meu lado, comeco amanha a epopeia para trazer a minha moto que esta em Detroit. O cara que  vendeu a minha estara me esperando na saida do aeroporto de Detroit, com uma F250 branca trazendo uma Goldwing Interstate 1986 negra  a reboque. Acho que nao e muito dificil de encontrar, nao ? Sao quase 900 Km ate Charlottesville, a ideia e’ o Cyro sair na segunda-feira e encontrar-me em algum lugar entre Detroit e Charlottesville. Se vai dar certo ?  Nao sei nem quero saber mas que vai ser maravilhoso, ah isso posso garantir. Continuem torcendo pela gente.

Ate a proxima.   

sábado, 14 de abril de 2012

AVENTURAS GERIÁTRICAS - 1a. PARTE

Amigos, parceiros, credores e cobradores, sinto informa-los que estou iniciando mais uma etapa do projeto “Torrando a herança dos filhos”.

Neste momento, como diria o nosso queridíssimo e jamais suficientemente incensado Apedeuta, estamos nos preparando para cruzar o Atlântico rumo à terra de Marlboro. Dentro de algumas horas estaremos em Charlottesville (Virginia) onde eu e meu amigo Cyro mostraremos aos gringos como dois septuagenários conseguem se equilibrar em cima de um triangulo apoiado em um dos vértices (é mais ou menos como me sinto em cima de uma moto). Lógicamente isso não vai acontecer logo de cara, primeiro temos um baita trabalho de casa para fazer mas, acreditem, vocês também iriam adorar nos ajudar na tarefa.

Indo direto ao ponto e sem fazer segredo, o trabalho que temos de realizar, antes de sair pelas estradas maravilhosas da Gringolandia, é fazer uma revisão em grande estilo de uma Honda Goldwing Aspencade 1984 e voar até Detroit para pegar outra Honda Goldwing Interstate 1986.









Como essas naves intergalácticas apareceram na história ? Fácil, o locutor que vos fala sonhou com elas quando por ocasião da Ablação/Badalação, lembram ? Sai do sono anestésico, comecei a fazer contas e cheguei a conclusão que se fosse alugar uma HD por mais de duas semanas sairia mais barato comprar uma moto velhinha (não tanto quanto eu, lógico) e na hora de voltar à república do bananão jogar a criatura Cannyon abaixo em grande estilo. Conversando com o Cyro resolvemos comprar duas motos. As HD ficaram logo fora de cogitação, dado o seu preço, no entanto queríamos motos semelhantes às nossas tourings.  Meus caros, estava difícil mas encontramos as motos. Uma delas nos remete de imediato ao grande amigo e cafeicultor (produtor do famoso Café Jacu Dourado) Pedrão Midas, a danada é DOURADA, e pertencia a um senhor com 94 anos de idade. Como ele estava mais surdo do que eu os filhos resolveram vender aS motoS do velho. Tudo bem, o cara é quase centenário mas tem classe. Observem só as fotos do sacana do velho.






A outra, uma 1986 negra como o bigode da múmia do Maranhão, está em Detroit e teremos que busca-la. O planejamento está da seguinte forma (se não mudar mais): chegaremos à Charlottesville na 3ª.feira, descansamos e na 4ª. terá início a revisão da Sabrina. Aqui abriremos um parênteses: fiquei olhando horas para as fotos da moto e o que me chamava a atenção era o volume da traseira da moto, pensei um pouco e cheguei a conclusão que a única japonesa de bunda grande que conheço é a Sabrina Sato, o batismo foi imediato, fecha parênteses. Na 5ª. ou 6ª., a depender do resultado da revisão, começamos a rodar com a moto pelas proximidades. No sábado embarco para Detroit, levando documentos e a placa debaixo do braço, e trago a moto para Charlottesville (cerca de 900 Km) via Front Royal onde o Cyro vai me aguardar com a Sabrina para voltarmos juntos pela Skyline Drive, uma maravilhosa estrada cheia de curvas que atravessa o Shenandoah National Park.






É meus amigos, torçam pela gente pois o sacana do horizonte teima em se afastar cada vez mais porém não entregamos os pontos: “quem tem medo de cara feia não amarra porongo nos tentos” (Rodrigo Severo Cambará)