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terça-feira, 26 de maio de 2015

UM VELHOTE DE MOTO NA EUROPA - 11

Braga – Porto

26 maio 2015

Agora outra viagem, bem curta mas que me levaria à foz do Douro,  ao caís do Adeus, onde muitos de nossos antepassados se despediram de pessoas amadas e fitaram seus rostos pela última vez, antes de embarcar numa aventura que só os que amam a estrada podem entender.  Talvez por isso, a visão do Farol da Barra em Salvador lembre tanto o do Porto, nossos patrícios construíram uma cópia do último cenário visto enquanto as naus desapareciam na curva do horizonte.
















Além de tudo o que a cidade do Porto nos oferece em termos de história, igrejas, monumentos, cafés, livrarias, restaurantes e padarias que nos fazem mandar todos os regimes para os quintos dos infernos, eu tinha dois compromissos: o primeiro seria encontrar meu irmão Nando, o primeiro “analfabeatle”  a perder uma carteira no Porto e que estava passando férias na Europa. O outro compromisso era com o Jorge Meirelles e o pessoal do Motoclube do Porto.
Uma das curiosidades que eu tinha era a razão para os naturais do Porto serem chamados de “tripeiros”. Acabei descobrindo e me emocionado, afinal é a história da solidariedade de uma cidade com seus filhos que iam para a guerra. Isso ocorreu quando a Armada se preparava para a batalha com Castela. A população decidiu doar toda a carne da cidade para abastecer os depósitos de víveres das naus e ela, a população, ficaria com as tripas. O que acabou por dar origem à famosa “dobradinha com feijão branco”.
O encontro com o Nando e a Lena foi uma festa, relembramos nossa viagem à Ushuaia em 2007, ele numa Super Ténère 750 e eu nuam Dodge M37 dando apoio às 5 motos. Aproveitamos e fizemos um circuito turístico naqueles ônibus sem teto que nos levou a sítios que certamente não iríamos por desconhecimento. Valeu a pena.


O encontro com o pessoal do Motoclube do Porto foi sensacional, uma sede linda e uma gente motociclista de verdade. Gente que gosta da estrada, gente que nos acolhe como se irmão fossemos e que nos faz mudar o roteiro com argumentos inquestionáveis e explico porque. Meu projeto original era ir à Fatima e depois Sevilha, Madrid, Andorra, etc.. Bem, foi isso que expliquei para o Jorge Meirelles e ele me respondeu espantado: “- Mas esse caminho é obvio !” e só então me dei conta disso, estava errado....aliás erradíssimo. Nenhum motociclista utiliza caminhos óbvios, além de demonstrar falta de imaginação pode ser extremamente perigoso. Conheço alguns que voltaram casados ! Concordei com ele que, para meu espanto e alegria, abriu um enorme mapa sobre a mesa, tomou de uma folha de papel e uma caneta, uma talagada em um enorme copo de caipirinha (sim, caipirinha legítima feita com “51” ) e falou com a seriedade que o momento exigia: “- Vou traçar-lhe uma rota”.  Meus amigos, se Dom Henrique de Coimbra vivo fosse melhor não faria. Ali estava, bem na minha cara, a prova viva do sucesso da Escola de Sagres. E eu teria a honra de comandar a nau Brigitte na rota adredemente preparada por Dom Jorge Meireles, seja lá para onde fosse. 





O amigo pode perguntar se eu não temia essa nova rota e respondo com sinceridade:  inicialmente sim mas após ouvir os nomes das cidades que cruzaria todo meu temor desapareceu. Eram nomes maravilhosos, que só um idioma como o nosso consegue dar o ritmo e o balanço que eles merecem. Ouçam-nos e imaginem pronunciados corretamente, sem nosso sotaque brasileiro:
Peso da Régua – Pinhão – São João da Pesqueira – Vila Nova Foz Côa – Barca D’Alva – Freixo de Espada à Cinta – Mogadouro – Miranda do Douro.

Isto me levaria pela região do Douro até a fronteira com a Espanha, que ele também completou até Andorra mas agora com cidades de nomes desprovidos de personalidade. 

Um comentário:

Phd Alienigena disse...

Ô pá! Não sabia que estavas a fazer viagem geriátrica lá pelas bandas de Camões. Muito bacana sua narrativa e fotos. Não sei se já voltou, senão, boa viagem e curta bem, se sim, seja bem vindo de regresso. Abração