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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Segurança - REDUZINDO RISCOS


REDUZINDO RISCOS NA PILOTAGEM


Pilotar uma motocicleta é a melhor coisa da vida que pode ser feita em público.  Por outro lado, se você não conhecer a técnica correta para pilotar a sua máquina o que deveria ser um prazer, a qualquer momento pode se transformar em um sério problema. O pior de tudo é que pouquíssimas pessoas reconhecem a necessidade de buscar ajuda e quando o fazem, quase sempre procuram as pessoas erradas.  
No meu caso dei uma sorte muito grande. Resolvi comprar uma motocicleta, uma Vulcan Classic 800, 3 ou 4 anos trás. Comecei como a maioria, achando que sabendo dirigir automóvel e bicicleta estaria automaticamente graduado. Passei por inúmeros “sufocos” e descobri, após uma viagem a Minas sozinho, que não sabia nada sobre a matéria.
Busquei ajuda na Internet e baixei um livro que, embora sobre motos “speed”, me deu  algumas dicas fundamentais  e onde fui apresentado ao “contra-esterço”. Após 8 meses com a Vulcan comprei uma Harley Davidson Road King Classic. Trouxe-a para Cabo Frio e após uma semana resolvi vende-la: cheguei à conclusão que jamais a dominaria. Um amigo, ao saber do motivo da venda, apresentou-me ao Comandante Cyro França que se dispôs a ensinar-me a Técnica das Polícias Americana e Canadense. Começamos no mesmo dia e após 3 ou 4 aulas desisti definitivamente de vender a moto e pela primeira vez me senti completamente seguro.
Continuei tomando aulas e praticando manobras em baixa velocidade, depois na estrada fazendo curvas em velocidades mais altas até que, com menos de 8 meses, viajei para a California onde aluguei uma HD Ultra Classic e “fiz”  20 dias de “Route 66” cruzando os desertos de Mojave e Arizona, atravessando o “Death Valley”, perdendo uns dólares em Las Vegas, conhecendo o Zion National Park,  Gran Cannyon,  Bagdad Café, etc... Tudo isso sozinho, enfrentando chuva e frio em algumas ocasiões, transito pesado nas cidades em outras,  e sem nenhum contratempo.  Aproveitando ao final para fazer o curso do Jerry Paladino (Ride Like a Pro) em Los Angeles e constatar que as aulas do Comandante Cyro eram bem mais completas e didáticas.
Assim é que continuo aprendendo, treinando, fazendo cursos, lendo e colocando em prática os conhecimentos que venho adquirindo e, em especial, as aulas do Comandante Cyro com quem tive o prazer e o privilégio de formar uma parelha, com duas veteranas Gold Wing, e rodarmos pela Virginia, North Carolina, Tennessee, New York, Maryland, West Virginia, Ohio, Pennsylvania e Michigan, onde o ponto alto foi uma louca disparada pelo famoso “Tail of the Dragon” onde os limites de velocidade foram excedidos, confesso envergonhado.
Fruto de todo ensinamento que recebo e recebi, tentei colocar em forma de artigo informações que, espero sinceramente, ser de alguma utilidade. 

REDUÇÃO DOS NÍVEIS DE RISCO

Antes de mais nada temos que definir o que é risco e como medi-lo. Em se tratando de pilotagem de motocicletas, podemos dizer que risco é a possibilidade de nos envolver em um acidente devido a  um PROBLEMA surgido em nosso percurso. Problema este que pode ser óleo, areia,  lama ou interdição na pista; veículos quebrados/parados; curvas que requerem velocidades mais baixas; etc... Naturalmente que o piloto, de acordo com seu nível de competência e com a natureza do problema,  buscará uma SOLUÇÃO  que exigirá TEMPO e ESPAÇO para ser executada com sucesso.
Isto nos permite dizer que, entre o momento em que o PROBLEMA for identificado e a MOTOCICLETA  devem existir  TEMPO e ESPAÇO suficientes para o piloto executar a SOLUÇÃO (freiar, desviar, acelerar ou qualquer outra que julgar adequada).  
Portanto, para avaliarmos o Nível de Risco de nossa pilotagem devemos medir  os componentes TEMPO e ESPAÇO existente entre a motocicleta e a nossa capacidade de perceber o PROBLEMA.  O Nível de Risco aumenta na razão inversa da redução desses dois fatores. Quanto mais  reduzido for  o tempo e o espaço entre você e o problema maior será o Nível de Risco de sua pilotagem.
Vamos tentar exemplificar. Imagine que você esteja pilotando, dentro dos limites legais da estrada, em uma reta e nessa reta exista um veículo acidentado obstruindo a pista. Este problema requer que você encontre e ponha em prática uma solução. Seja qual for a solução encontrada você precisará de TEMPO e ESPAÇO para executar a manobra adequada. A diferença entre sucesso e desastre serão os metros e frações de segundo disponíveis para o procedimento.
A responsabilidade por criar este verdadeiro Espaço Vital é unicamente do motociclista, através de uma postura que deveria ser ensinada antes de qualquer outra coisa e onde três ações devem ser destacadas:  PERCEPÇÃO, DECISÃO e EXECUÇÃO.

PERCEPÇÃO:
Esta é a mais importante das ações. Quanto mais cedo você perceber um problema ou a simples possibilidade de sua ocorrência, mais tempo e espaço você terá para as duas outras ações: DECISÃO e EXECUÇÂO.
Não por acaso os bons pilotos olham 2 ou 3 segundos à frente,  antecipando o que será necessário fazer para alcançar  aquele ponto. Parece uma coisa difícil mas se você praticar torna-se automático.  O seu olhar deve funcionar  como a luz dos faróis de um carro:  não se fixam num objeto mas sim estão sempre à frente varrendo a estrada. Você deve utilizar igualmente, a  visão periférica com a qual perceberá os obstáculos mais próximos sem necessidade de desviar o foco que estará à frente.
Existem exercícios para aprimorar (na realidade aprender a utilizar) a visão periférica que ajudam muito. Por exemplo, sentado em uma mesa com vários objetos em volta e olhando, sem desviar o foco, um ponto fixo à frente mover as mãos e pegar os objetos sobre a mesa.
Olhar os veículos que estão bem à frente muitas vezes nos ajuda a perceber obstáculos que a vista ainda não alcança, seja através da luz de freio, algum solavanco, fumaça de pneus, ou mesmo um desvio brusco. Com o tempo, e exercitando sempre, adquirimos uma capacidade de percepção que irá nos livrar de muitos problemas. Animais nas margens da pista,  veículos no acostamento ou parados em cruzamentos e interseções devem ser considerados problemas em potencial.

DECISÃO:
Neste ponto, após ter PERCEBIDO o problema, considerando o espaço e o tempo disponível você DECIDIRÁ qual a solução a ser EXECUTADA. Lembre-se que a moto continua rodando comendo metros e frações de segundo que podem fazer toda a diferença, quanto mais rápido você der início à EXECUÇÂO do procedimento maior será a probabilidade de sucesso.
Dito assim parece difícil ou mesmo impossível de ser feito mas não é. Antes de mais nada você deve conhecer os fundamentos básicos de pilotagem (Frenagens, Contra-esterço, Olhar, Postura, Curvas em baixa velocidade, etc...) e, principalmente, que você tenha um programa de treinamento que simule situações imprevistas (falaremos disso mais tarde), você vai incorporando manobras e procedimentos de segurança que, pela repetição, seus músculos acabam por memorizar  se transformando em reflexos.
Uma ótima maneira de simular situações de risco em segurança é o chamado Treinamento Mental. Sentado em uma cadeira confortável em um local sossegado em sua casa, feche os olhos e imagine que está pilotando sua moto, procure imaginar o som do motor, os pneus girando no asfalto e de repente uma situação de risco, por exemplo um carro quebrado após uma lombada. Imagine uma solução e realize as manobras mentalmente. É um ótimo exercício pois nos leva e desenvolver soluções para as situações mais inusitadas em completa segurança. Mais tarde você coloca-as em prática em um local seguro onde você poderá verificar o espaço e o tempo requerido para sua conclusão, ajudando-o a conhecer ainda mais sua motocicleta.
Uma dica fundamental  é que após você decidir por um procedimento jamais desista dele. Leve-o até o fim.

EXECUÇÃO:
Já que o problema foi PERCEBIDO e uma solução foi DECIDIDA,  se ambas as ações foram realizadas em tempo hábil e você vinha pilotando mantendo um Nível de Risco adequado, ou seja: com TEMPO e ESPAÇO suficientes para as três etapas:  PERCEPÇÃO – DECISÃO  - EXECUÇÃO, esta é a etapa mais fácil, basta que você coloque em prática a sua habilidade como motociclista para contornar a situação com sucesso
Além da manobra propriamente dita, existem dois aspectos fundamentais que não podem ser negligenciados , especialmente neste momento : RESPIRAÇÃO e OLHAR.
RESPIRAÇÃO: Como todos que passamos por situações estressantes e recebem uma descarga de adrenalina, tendemos a contrair os músculos, trincar os dentes e bloquear a respiração. Isto é altamente prejudicial em todos os sentidos pois acaba prejudicando a oxigenação do cérebro afetando nossos reflexos. O que aprendi é que, em situações como essas, ao PERCEBER o problema, começo a inspirar pelo nariz e expirar pela boca, como um atleta. Isto funciona muito bem comigo evitando uma elevação dos batimentos cardíacos. Aliás, sempre que vou fazer uma manobra um pouco mais complicada passo a respirar como um atleta garantindo uma oxigenação adequada.
OLHAR: Uma verdade que aprendi é que a motocicleta vai para onde olhamos, é inevitável.  Se você olha para o acostamento ou para o carro que vem em sentido contrário, você é atraído para eles como se foram imãs.  Se você está numa curva e deixa de olhar para o ponto onde quer que a moto vá e olhar para a pista contrária, esteja certo de que você invadirá a pista contrária.  No presente caso, você identificou um PROBLEMA, DECIDIU o que fazer e está EXECUTANDO a manobra que o livrará do PROBLEMA. Não olhe para o  PROBLEMA mas sim para onde quer que a manobra leve a moto pois lá está a SOLUÇÃO !
Olhe para a SOLUÇÃO, jamais para o PROBLEMA !
Naturalmente que a capacidade de executar estas 3 etapas variam de motociclista para motociclista  cabendo a cada um de nós conhecer e  estabelecer  nossos próprios limites.  As diferenças podem se tornar perigosas quando se anda em grupos pois algumas vezes colocam motociclistas experientes “puxando” o “bonde” obrigando, eventualmente, outros motociclistas  a pilotarem acima de seus limites.
Um outro aspecto interessante é o Nível de Risco que a pessoa está disposta a assumir. Conheço motociclistas que fazem uma determinada curva a 140 Km/h, no limite. Sei que tenho habilidade e competência para faze-lo mas prefiro contorna-la a 110 Km/h, tenho como padrão andar entre 70% a 80% do meu limite deixando uma margem de segurança. Tem sido saudável.
Se eu pudesse dar uma sugestão para meus irmãos motociclistas diria o seguinte:  Faça da pilotagem de sua moto um prazer, andando da forma e na velocidade que você julgar a mais adequada. Não tema abandonar um comboio se você não está disposto a assumir um Nivel de Risco que não é o seu.


Referências Bibliográficas:

WWW.aviaomotoskill.com -  Com. Cyro França

Ride Like a Pro – Jerry Palladino

Maximum Control – Pat Hahn

Proficient Motorcycling – David L. Hough

A Twist of the Wrist II – Keith Code

Street Strategies – David L. Hough

Motorcycling Excellence – The Motorcycle Safety Foundation’s Guide