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segunda-feira, 20 de julho de 2015

UM VELHOTE DE MOTO NA EUROPA - 45




COLMAR – PARIS

20 julho 2015 

Agendei um hotel em Saint-Ouen-l’Aumône, a 40 Km do centro de Paris porém a 1 Km da Yamaha Motor France. Afinal tinha de pensar na minha caminhada de volta depois de entregar a moto, hehehe. 

A viagem até Paris foi excelente, havia uma ameaça de chuva mas percebi que elas ocorrem sempre a partir da 13 horas, por isso saímos cedo e fomos desfrutando os últimos quilômetros de nossa parceria. 








O tempo estava nublado o que poderia contribuir para um certo clima de melancolia à nossa despedida mas isso não ocorreu, fomos lembrando os momentos maravilhosos de uma viagem de sonho. As encostas cobertas de parreiras da região do Douro no fraterno Portugal; as edificações medievais, gálicas e romanas enfeitando nosso trajeto; as curvas radicais dos Pass e Cols dos Pirineus e dos Alpes; os abismos incríveis domados pelo homem no Furka Pass; a fúria do vento no alto do Col de La Bonette; a força da fé e da esperança impulsionando peregrinos para Santiago de Compostella; Fátima, presença constante em minha vida; as estradas roubadas à rocha no Canyon Du Verdon; o azul incrível do Adriático e mais, muito mais porém nada que chegue perto daquilo que mais me emocionou em toda a viagem: o ser humano. Nada se lhe compara. 

Nesta viagem descobri que todos temos muito mais amigos do que imaginamos. Pessoas que jamais voltarão a vê-lo, e sem motivo aparente, são capazes de anônimos gestos de grandeza. O carabinieri Stefan; o meu amigo Lupo; as enfermeiras e médicas do hospital de Silandro; o ciclista que me socorreu com seu inglês pior do que o meu porém com uma enorme dedicação; o dono do Hotel em Silandro; Rosi, uma verdadeira mãe para mim; pessoas de quem nem sei o nome mas que me encorajavam com um “buon giorno” e um sorriso ao me verem capengando pelas ruas de Lasa. Foi maravilhoso sentir uma cidade torcendo por mim. 

No dia em que cheguei trazendo a moto da oficina pude ver a alegria estampada na face das pessoas. Parecia que estavam orgulhosos de mim e dizendo: “-Vá em frente motoqueiro, são apenas 1.000 Kms até Paris, você consegue seu velho coxinha !”. 

E conseguimos mesmo, após 11.000 Km iniciados em Paris no dia 12 de maio de 2015. Cruzando 5 países (França, Espanha, Portugal, Italia e Suiça), 2 principados (Andorra e Mônaco) e uma cidade estado (Vaticano) 

Hoje (22 de julho de 2015), depois que o pessoal da Yamaha saiu do galpão deixando-nos a sós, despedi-me da Brigitte com um afago no tanque e um “obrigado querida”. Em seguida, sem olhar para trás, sai mancando qual um pato aleijado em direção ao hotel numa caminhada que durou o tempo necessário. 

Bem, a lona foi enrolada, o picadeiro desfeito, a bailarina e o palhaço se despedem e esperam ter transmitido um pouco da alegria que os embalou durante esses 70 dias. 



Até qualquer hora....e muito obrigado.

sábado, 18 de julho de 2015

UM VELHOTE DE MOTO NA EUROPA - 44

MULHOUSE (FR) - COLMAR (FR)

18 julho 2015

Eu iria ficar mais uns três ou quatro dias em Mulhouse dando um descanso à minha perna e curtindo um pouco a cidade. Acontece que se mal consegui dormir na primeira noite por causa do calor, na segunda, além do calor, tinha um desgraçado tocando saxofone numa tal de Jam-Session no prédio em frente ao meu. Não existe melodia, não existe nada, o cara fica fazendo variações de escala que enchem o saco de qualquer pessoa minimamente lúcida. Que saudades de uma 12 “pump”!
Resolvi ir para um hotel com ar condicionado e longe do infeliz. Assim, fui para Colmar, a 45 km de distancia, onde ia colocar as ideias em ordem para encerramento da viagem e entrega da moto à Yamaha.
Moto na estrada, ainda com o capacete aberto e óculos de aviador da 2ª. Guerra (trouxe de brincadeira e é o que está me safando). A moto está sem para-brisas e isso causou um efeito terrível no GPS. Peguei uma chuvinha pequena, mas que cada gota no rosto era como uma picada de agulha. Acupuntura deve ser assim, eu acho, mas pilotando uma moto é meio chato, né?
A sorte é que o percurso era pequeno e chegamos logo ao hotel, ótimo por sinal (Le Roi Soleil). Logo na chegada um Fiat Topolino em exposição no bar do hotel.







No dia seguinte resolvi ir ao centro antigo da vila para conhecer e fotografar alguma coisa, afinal estava numa das cidades mais charmosas da França. Ela fica próxima da fronteira com Suiça e Alemanha e ao longo do tempo já esteve em mãos alemãs, o que se pode notar pela arquitetura tipicamente germânica. Além disso ela é cortada por inúmeros canais em uma área que é conhecida por Le Petite Venice, tendo até um passeio de barco de uns 20 minutos.







O ideal do passeio pelo centro antigo é que seja feito a pé, mas eu não estava em condições de fazê-lo. Optei (como era domingo) por percorrer as pequenas vielas de moto, quando possível.










Sempre de olho no GPS, assustei-me quando a tela começou a embaçar, como se tivesse alguma condensação, e não aceitar mais os comandos de “touch-screen”. A volta para o hotel, começando a chover, foi terrível. Por sorte encontrei um rapaz passeando com um cachorro que me deu dicas precisas e consegui voltar. Liguei o GPS no netbook e deixei-o a noite inteira. No dia seguinte a tela limpa, sem sinal de condensação, mas de lá para cá ele não aceita nenhum comando de “touch-screen”. Ou seja, virou um peso para papeis já que nem mesmo joga-lo na privada e dar a descarga consegui.




quinta-feira, 16 de julho de 2015

UM VELHOTE DE MOTO NA EUROPA - 43



BAD RAGAZ – MULHOUSE

16 julho 2015 



Sai de Bad Ragaz por volta das 10 da manhã, a idéia era atravessar a Suiça e entrar na França pela Basileia (Basel para os mais viajados, o que não é o meu caso). O GPS foi me presenteando com estradas espetaculares, uma pena eu não poder parar a todo momento para fazer as fotos de praxe (o tornozelo incomoda um pouco). De qualquer forma, alguma coisa eu consegui, até mesmo a enfermeira sueca se exercitando. 















O maior problema foi que o Tomtom me fez atravessar Zurich de cabo a rabo, às 13 horas, com um calor senegalês e, ao final, todos os acessos à rodovia fechado por obras. 

Foi terrível, até que parei ao lado de um peão e perguntei a ele como fazer para sair dali (o inglês nessas horas brota, naturalmente entremeado com alguns putaquiupariu, etc). O cara me mandou seguir para uma cidade (ou bairro) chamado Watt, pegar a direita e sair seguindo umas pequenas setas laranja indicando "Dielsdorf" por uns 3 Km e iria encontrar um trevo onde deveria pegar o sentido Basel (como entendi isso é coisa de São Cypriano).

Pronto, perfeito, apesar do Tomtom ficar alucinado e me mandar para tudo quanto era lado. Ignorei-o e consegui sair da enrascada. 


Em Mulhouse fui direto para o a Cité de l'Automobile mas, sinceramente, me decepcionei. Meu sonho era conhecer a coleção de Bugattis (e apenas Bugattis - chegaram a ter 300) dos Irmãos Schlumpf e acabei vendo Dauphine, Tatra e umas aberrações que mereciam estar num desmanche bem muquirana. 

A história desses 2 irmãos é incrível, um deles cuidava dos negócios (indústria textil) e o outro de dilapidar o patrimônio e o caixa da emprêsa comprando Bugattis em qualquer parte do mundo. 

Eles prepararam um local luxuosíssimo, sob a fábrica, onde restauravam e expunham os carros apenas para eles mesmos. Ninguém tinha acesso e até a quantidade de carros era ignorada. 

No final dos anos 60, a indústria textil deslocou-se para a Asia e os negócios entraram em decadencia. 

Salários e pagamentos de fornecedores começaram a atrasar até que funcionários em greve descobriram o "museu secreto". 

Eles mantiveram os irmãos presos na fábrica por uma semana precisando a polícia solta-los e, claro, eles fugiram para a Suiça (eram suiços). 

Os trabalhadores junto com Associações de automobilismo, governo e outros dinossauros resolveram abrir o museu ao público para ressarcimento de direitos trabalhistas. Foi um sucesso de público mas o governo resolveu vender as melhores peças e se ressarcir de tributos sonegados. Os trabalhadores ficaram chupando dedo, como sempre. 

O museu hoje parece que é gerido pelo estado. As teias de aranha no painel da entrada já dizem tudo. A administração é amadorística, sem temática e sem a menor lógica na distribuição dos espaços, um acervo misturando Ferrari F40, Renault Dauphine e um Tatra no mesmo espaço, fora o resto. 

O que se salva mesmo são as 6 Bugattis Atalante a Royale e alguns clássicos como Bentley, Rolls, Mercedes Asa de Gaivota e mais uns poucos do mesmo naipe. Até mesmo a enorme Bugatti La Royale conversível é uma réplica. Réplica por réplica sou mais o meu Cobra, pelo menos anda e tem som de carro de macho.

Atrás do museu, tem uma pista onde você paga 300 euros para dar 4 ou 5 voltas em uns carros dos anos 60: Triumph Spitfire, Jaguar XK-150, MG Midget, Ferrari, etc...





















Reparem como estava inchada minha perna direita, não conseguia nem amarrar o tênis. Só descobri que tinha fraturado a fíbula e uma costela quando cheguei em Cabo Frio - pilotei assim por 1.000 Km (de Lasa a Paris) mas valeu a pena, sempre vale.