TOTAL DE VISUALIZAÇÕES

sábado, 15 de junho de 2013

A MARCHA PARA O OESTE - Como surgiu


Uma breve explicação


Após a volta do Cyro para o Brasil, continuo nos Estados Unidos e iniciei um novo projeto chamado “A MARCHA PARA O OESTE”. Diariamente, quando possível ou se justifica, posto fotos e algum comentário no FB, ocorre que muitos amigos pedem para que eu as coloque também no Blog pois fica mais fácil de consultar. Como iniciei a viagem no final de junho, com vários posts já colocados, vou resgatar os antigos aos poucos porém os atuais serão colocados ao mesmo tempo em que o faço no FB.

 

COMO SURGIU

Após o embarque do Cyro para o Brasil, com todas as gozações a que ele fez juz, até de cadeira de rodas ele andou com uma pilotagem magistral do locutor que vos fala.
 
 
 
 
Fiquei em Charlottesville (VA) e embora muitíssimo bem tratado pela família dele eu estava impaciente para inventar qualquer coisa. A idéia inicial era o Canada mas meu passaporte continuava no consulado canadense em Nova York para obter o visto sem previsão de retorno. Pensando um pouco, o que só faço em anos bissextos, lembrei que conhecia um pouco da costa do Pacífico e da costa do Atantico e quase nada do Centro-Oeste americano. Conversando com o genro do Cyro, o Bob que além de conhecer profundamente a história de seu país, ajudou-me a definir alguns importantes parametros para meu roteiro. Para isso partimos de 3 premissas:

1 – Fugir ao máximo das grandes Highways, utiliza-las apenas para deslocamentos rápidos sem perder de vista que o veículo é uma motocicleta que adora estradas sinuosas e serras.

2 – História + Geografia, ou seja dar preferencia a locais históricos e/ou de aspectos geográficos relevantes.

3 - Flexibilidade total, onde voce vai e volta ou vai e não volta ou então nem vai. É mais ou menos como “Sem lenço e sem documento”.

E assim foi feito uma espécie de rascunho, em torno das já famosas cervejas que o amigo dele fabrica. Troquei o pneu dianteiro da Helö, que estava com menos de meia-vida, preparei a tralha e aí veio a parte mais difícil: as despedidas. Momento de muito riso, muita brincadeira mas todos estão emocionados, uma última foto, montar na moto, sair gritando fingindo que vai cair mas só até a esquina, momento em que os olhos tem uma certa dificuldade de enchergar através de algumas lágrimas de saudade e gratidão.

sábado, 8 de junho de 2013

AV. GERIÁTRICAS II - A conversão do Cyro


 
O tempo deu uma melhorada depois que entramos na Virginia e aproveitamos para ganhar tempo reduzindo as paradas mas ainda assim conseguimos fazer algumas fotos naquelas obrigatórias para tirar água do joelho, um procedimento muito comum na 3ª. idade.

 




 

Em uma dessas paradas sai na frente do Cyro, ao fazer uma curva deparei-me com o asfalto tomado por  grama recém-cortada (os gringos aparam a grama do acostamento com uns carrinhos que recolhem a grama cortada num saco acoplado aos mesmos mas neste caso ele não tinha o sacana do saco e coalhou a curva de grama verde). Tinha um trilho no meio daquele tapete de grama, fechei o punho e consegui colocar a moto no trilho salvador ao mesmo tempo em que pensava: “- O Cyro vem abrindo o gás para me alcançar e talvez não tenha tempo de ver o trilho”. Reduzi a velocidade e fiquei de olho no retrovisor, ele realmente veio “quente”, as duas rodas pisaram na grama e lá foi ele escorregando com as duas para o acostamento onde conseguiu que a moto ganhasse tração a um palmo da “terra de ninguém”. Foi sorte ? Claro que voce tem que contar com ela mas foi uma demonstração de como jamais voce deve desistir de uma curva e tratar de fazer a sua parte para sair do problema. Sem dúvida foi uma linda manobra.

Depois disso, paramos para abastecer as motos e fomos em busca de um local para comer pois a fome era muita. Estávamos perto de uma cidade chamada Buena Vista e combinamos de nos encontrar no Gap onde sairíamos para a cidade. Acontece que passei do Gap e parei num “outlook” mais à frente. O piso era muito inclinado e quase derrubei a moto, me equilibrando por pouco. Quando o Cyro veio chegando, notei um rapazinho (uns 16 ou 17 anos) num scooter que mais parecia uma bicicleta motorizada de tão pequeno. O rapaz se dirigiu a mim com um livreto intitulado “Voce quer conhecer a verdade ? ”(em ingles, claro), eu disse logo que não e exatamente neste momento o Cyro chega e cai com a moto. Para variar ele sai rolando e a Sabrina deitou legal, não ficou em 45 gráus não, foi logo para os 90 gráus. O garoto se abaixou ao lado do Cyro com o livro na mão oferecendo a ele. O Cyro deitado não entendia nada e só olhava a gasolina escorrendo do tanque e correndo para baixo da moto próximo do escapamento. Deitado o Cyro me perguntava: “-Hélio, que porra que esse maluco está falando ?” Embora o Ingles dele seja muito melhor do que o meu ele não queria acreditar no que ouvia. Aí foi minha vez: “-Acho que ele está querendo lhe salvar. É pegar ou largar !”.  Meus amigos o Cyro levantou-se de um salto berrando em ingles com o garoto que se ele não  o ajudasse a levantar a moto as chamas do inferno iriam queimar, além da moto,  o rabo dele. Eu quase me mijava de rir. Aquilo tudo era surreal. Primeiro a motoneta ridicula do moleque numa estrada daquelas. Depois o tombo do Cyro com rolamento e tudo. Em seguida o garoto se ajoelhar e tentar converter o Cyro prestes a ter um infarto vendo a gasolina indo para o escapamento da moto caida. Um momento inesquecível. Sei não, aquele garoto vai longe...

Depois disso a viagem transcorreu debaixo de gargalhadas todas as vezes que parávamos e assim chegamos a Charlottesville onde o Cyro embarcaria, dois dias depois, para o Brasil e eu partiria para alguma aventura qualquer com a Helö.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

AV. GERIÁTRICAS - O verdadeiro Easy Rider


 
Acordamos cedo para tentar adiantar a viagem mas o tempo não ajudava. Passando pelas montanhas encontramos nuvens baixas que nos envolveram deixando a visibilidade próxima de zero além de nos enregelar até a alma. A pilotagem exigindo muita mão de obra e o frio causando dores até nas juntas dos motores das motos. Resolvemos parar em Blowing Rocks e foi quando vimos uma moto antiga (uma Royal Enfield 1955) parada à porta de um empório. Entramos e nos deparamos com o próprio Matusalem. O velhinho, com muita calma e simplicidade, mostrou quem era quem no mundo das motos. Para começar foi ele mesmo quem restaurou a moto e é quem faz toda sua manutenção. Hotéis nem pensar pois ele carrega uma tenda e toda a tralha para acampar em cima da moto. Comentei com ele sobre a reserva de combustível e de água que ele carrega (2 cantis e uma garrafa de plástico – vide 2ª. Foto) ao que ele retrucou que leva apenas uma garrafa plástica de água e nos cantis leva Jack Daniels em um e no outro uma infusão para proteger os pulmões da friagem cuja fórmula lhe foi dada por sua vö: Bitter russo e conhaque (em generosas quantidades) mel, aqua velva, pimenta, e duas ervas indígenas: pentelhos de cobra e tusse-tusse (estes dois últimos ítens foi o que consegui entender com meu ingles de Praça Mauá). O papo ia nesse tom quando nos levantamos para as despedidas e o Cyro perguntou a que horas ele iria pegar a estrada. O Tim (de Timotheo que é o seu nome) mostrou-nos os pulsos e disse que não usa relógios, celulares e computadores pois complicam a vida e ainda por cima enguiçam mais do que mulheres. Além do mais ele precisava continuar uma conversa com a simpática coroa que nos atendeu. Afinal às vezes faz muito frio na tenda, confidenciou-nos ao pé do ouvido e com um sorriso dos mais sacanas.








 

AV. GERIÁTRICAS II - Uma filmagem à distancia


 

Terminado o circuito do Rabo do Dragão resolvemos voltar pela 28, a Fontana Rd que passa por uma represa belíssima onde tiramos várias fotos ano passado. Embora fosse uma segunda-feira, notamos que não havia movimento nenhum na estrada. Ótimo pensamos e tocamos o barco. Algumas milhas à frente  soubemos o motivo, a ponte sobre a Fontana Dam estava fechada em obras. Demos meia volta e aproveitamos para fazer uma filmagem.  A camara (uma Drift 170 HD) ia presa no suporte do GPS  à esquerda do guidon  da minha moto e o Cyro iria na frente. A discussão já começa na saída pois ele queria que eu ficasse a dois metros de distancia dele. De moto, a dois metros de distancia eu não fico nem da Sabrina Sato pilotando pelada na minha frente, respondi. Não adianta, não quero dar nenhuma chance ao acaso. Ainda por cima sabemos muito bem que se voce se sabe filmado algumas presepadas irão acontecer, faz parte,  e é normal que assim seja. Portanto não há força neste mundo que me faça mudar de idéia. Dito isto fomos à luta, o Cyro na frente  e eu mantendo uma respeitável distancia e assim foi feito o filmete que está no youtube:    http://www.youtube.com/watch?v=9wwqxmlVfvQ .


O dia não rendeu muito pelos desvios que tivemos que fazer e pela ponte interditada em Fontana Dam. A idéia era sair bem cedo no dia seguinte para fazer a viagem render já que o Cyro tinha passagem de volta para o Brasil marcada e além disso as notícias da meteorologia não eram nada boas mas quem “está na chuva é para se queimar”.  Paciencia....

 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

AV. GERIÁTRICAS II - Pegando o Dragão pelo rabo.


A estrada que nos leva de Charlottesville até Robbinsville, região do Tail of the Dragon, é nada menos do que uma das mais espetaculares estradas dos Estados Unidos. Já percorri 3 anos seguidos suas quase 500 milhas em ambos os sentidos e o prazer é o mesmo. Asfalto excelente, sinalização perfeita, curvas de todos os tipos, uma estrada construida em um complexo de parques florestais de forma a não agredi-los, por mínimo que seja. Transito majoritáriamente de motos. Astral nas alturas. Só conhecendo mesmo para acreditar. Como um bonus, ao final ela nos deixa a poucas milhas de Deals Gap, onde tem início o Tail of the Dragon. 


Muitas pessoas me perguntam se vale a pena repetir o Tail of the Dragon, ou mesmo se compensa investir uma grana para viajar até lá. Acho que a resposta é a mesma que voce receberá de um surfista se pergunta-lo por que Pipeline no Hawai, afinal ondas existem em todas as partes do mundo. No meu caso, a primeira vez em que pilotei no Dragão foi em 2011 com uma Ultra Classic alugada em Staunton (VA). Eu estava sózinho e com uma moto alugada, isso levou-me a uma pilotagem extremamente cuidadosa e sem chegar perto de limites. 


Já no ano passado, 2012, além de estar com a minha moto, uma Honda Goldwing 1987, estava acompanhado do Cyro também com uma Goldwing Aspencade. De cara cometí um erro, eu deveria ter deixado o Cyro ir na frente pela sua maior experiencia mas a ansiedade falou mais alto e esqueci deste detalhe, o fato é que eu estava indo bem, a empolgação aumentando, as pedaleiras da Camila raspavam o asfalto com vontade e a sequencia de curvas não dá tempo para voce respirar. São 11 milhas mas sem nenhuma folga entre as 315 curvas: redução, olhar, contra-esterço, aceleração e já outra curva lhe esperando. Eu ia na frente, logo em seguida vinha o Cyro e atrás dele uma moto com um casal (só depois é que fui saber). O fato é que na última milha errei uma curva, e era uma curva para a direita onde, apesar de estar com giro alto e ter fechado o punho, a velocidade ainda era superior à indicada. Com isso invadi a contra-mão e dei uma sorte enorme de não vir nada em sentido contrário (não me perguntem o que faria se viesse um corro ou uma moto pois não sei). O ponto positivo disto, se é que se pode chamar assim, foi que não desisti da curva e acabei trazendo a moto para a mão, arrastando tudo, conseguindo concluir a curva. Mais algumas curvas, o coração voltando à normalidade e entramos no estacionamento de Deals Gap. Paramos os tres bem próximos e ví que o Cyro dirigiu-se para a mulher que estava na garupa da moto que estava atrás dele e rindo comentou que eu tinha errado uma curva, ao que ela respondeu: “- Foi mesmo ? Não ví nada fechei os olhos quando sai e só abrí agora !” 


 

Naturalmente que após este evento, enquanto voltávamos vinha praticando algumas dicas que o Cyro me passou. As coisas ficaram bem melhores e vinha pensando comigo mesmo: “- Em 2013 eu pego esse Dragão pelo rabo ou não me chamo Hélio”.

E agora, com a chuva atrapalhando meus planos, eu estava frustradíssimo e de mau humor. No dia seguinte à nossa chegada além da chuva baixou uma cerração tão densa que dava para cortar com uma faca. Nada a fazer a não ser frequentar uma lanchonete onde o Cyro fez amizade com o dono, que era um tremendo boa praça e adorava motocicletas. Tempo se esgotando, hora de ir embora e a chuva dá uma parada, embora com um pouco de cerração. Viro para o Cyro e pergunto, vamos dar uma passadinha no Dragão ? Só para olhar ? Chegando lá (a umas 8 milhas de distancia) o sol abrindo e o chão seco me convidavam. Nem esperei o Cyro, conversei com a Helo e lá fomos nós. 2ª. E 3ª. marchas sem usar freio, RPMs no mínimo a 3.500, concentração total, peso no pé do lado interno da curva, mão esquerda “cobrindo” manete de embreagem, ponta do pé esquerdo em cima do pedal do cambio para a eventualidade de precisar jogar uma marcha mais baixa (nunca a 1ª. pois o risco de ficar em neutro é grande) e a Helö bailando que era uma beleza desmentindo boateiros que dizem que HD não faz curva. A verdade é que lavei a alma, voltei encharcado de suor mas rindo a toa com o trabalho realizado. Agora vamos esquecer isto e voltar a pilotar com juizo. Tail of the Dragon é só uma vez por ano. É o único pecadinho a que me permito.
 
 
 
 
 

 
Essas fotos são feitas por profissionais que ficam em locais estratégicos e com máquinas dotadas de lentes com zoom poderosíssimos permitindo uma resolução acima da média, tanto é que tive de reduzi-las para que o blog as aceitassem.

 

Interessante notar nesta última foto, em que foi ampliado apenas a região do conta-giros da Helo que ele está marcando 3.500 RPM no meio da curva. Acho que ficou bem didático. Entrar em curvas acentuadas ou que voce não conheça com giro baixo é procurar problema.
 
 
 
 
 
 

 

AV. GERIÁTRICAS II - Dois velhos desafiados.


Como dito anteriormante, continuávamos fazendo passeios por perto, no máximo um “bate e volta” em cidades próximas, para testar as motos. A do Cyro, já que ele deixou-a na Honda para uma revisão,  e a minha por ser recém comprada.  A revisão da moto do Cyro teve que ser quase totalmente refeita por ele. Os caras deixaram um monte de furos e ainda perderam peças que ele entregou para que trocassem. Como se vë, mão de obra mequetrefe voce encontra em todo lugar. No caso da minha moto, embora ela estivesse com apenas 36.000 milhas, trata-se de um modelo 2001 e  seu proprietário, militar, serviu fora do país por vários anos ficando a moto grandes períodos inativa. De qualquer forma ambas as máquinas não decepcionaram nestes passeios, bem ao contrário, parecia que pediam cada vez mais e com enorme alegria.

 

Conversando sobre a disposição das motos e estimulados por uma cerveja fabricada por um amigo do genro do Cyro, resolvemos que estando em Charlottesville seria uma heresia não ir ao Tail of Dragon e, principalmente, pilotar pelas quase 1.000 milhas da Blue Ridge Parkway (ida e volta), a estrada dos melhores sonhos de qualquer motociclista.

No dia seguinte, cérebros entorpecidos pela ressaca, esquecemo-nos completamente do combinado mas aí foi a hora de quem ouviu nossas bravatas  cobrar: esposa, filha, netos e genro do Cyro além da Bear e do Gus (os dois cachorros da  família):
“- Cadë os motoqueiros selvagens ?”, “- Amarelaram ? “, “- Por que não alugam cadeiras de roda ?”, “- Vai um balão de oxigenio ?”, e outras amenidades como essas mas o que mexeu nos nossos brios mesmo foi quando propuseram que alugássemos um Trike. Pö, aí não....aí é chamar para briga. Trike é o cacete. Contrato uma enfermeira para pilotar a moto e vou na garupa mas Tryke não ! E assim partimos para segurar o dragão pelo rabo para felicidade da família e da vizinhança que já não aguentava mais aqueles dois velhos malucos regulando motor, trocando óleo das motos (naturalmente derramando o óleo no chão do estacionamento) além das curvas nas ruas do condomínio raspando pedaleira, fora o resto...

 

O certo é que saímos de C’Ville após o  almoço e pegamos a Blue Ridge Parkway numa 6ª. Feira. Apesar de ser dia de semana encontramos muitas motos pelo caminho, na realidade mais de 50 % do transito é de motos pois a estrada é vedada para veículos comerciais e é realmente sensacional para motos. Embora a velocidade máxima seja de 45 milhas na maioria dos trechos, um excesso de até 10 milhas é tolerado e em dias de semana a gente abusa ainda um pouco mais. Pernoitamos em Roanoke e seguimos no dia seguinte, sábado. A estrada já com muito mais movimento de motos mas nada que atrapalhasse, tanto é que o Cyro começou a abrir o gás com mais entusiasmo e eu preferí manter minha toada de sempre. Para não nos atrapalharmos combinávamos os pontos de parada,  o Cyro ia no rítmo dele e eu no meu.

 
 
Às tantas, num trecho em obras, vejo lá na frente o Cyro e atrás dele uma pick-up branca com um monte de lampadas piscando. “Vão passar a pulseira nele e não vou perder isso por nada desse mundo !”, pensei. Ví eles entrando num “outlook”, acelerei e entrei também e ví  o “cop” já fora da viatura mas com a mão direita próxima à arma  mantendo uma distancia razoável daquele motoqueiro louco que tentava tirar o capacete. Só quando viu que se tratava de um senhor de descabelados cabelos brancos foi que o “cop” relaxou. Relaxou tanto que permitiu-me fotografar o Cyro recebendo um “ticket” por excesso de velocidade na Blue Ridge Parkway.




 


Depois da cena, presenciada por um monte de turistas, pensei que o Cyro ia sossegar o facho, ledo engano. Quando pedi a ele para maneirar na pilotagem ele respondeu:
“-Calma, não fica nervoso, um avião não cai duas vezes no mesmo lugar. Vou sentar a botina para tirar a diferença !”.   
E foi assim que a viagem prosseguiu até Robbinsville onde chegamos debaixo da maior “pauleira”: chuva, vento e anoitecendo. Foi um alívio quando encontramos o hotel com o estacionamento lotado de motos, embora a possibilidade de rodar no Rabo do Dragão com aquele tempo fosse remotíssima.


 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

AV. GERIÁTRICAS II – Passeios "coxinha"



Finalmente o Cyro ficou legal da gripe e começamos por fazer um passeio a Orange City mas não pelas retas, largas  e monótonas estradas  indicadas pelo GPS, isso é coisa para fracos. Ano passado descobrimos, nos perdendo e nos achando um sem número de vezes, estradas vicinais que cortam a região de fazendas entre Charlottesville e Orange em várias direções mas existe uma, em especial, que virou nosso parque de diversões. Ela tem  apenas uma pista de mão dupla, estreita, sem acostamento , e sem marcação no asfalto mas com  curvas para todos os gostos. De vez em quando uma ponte para apenas um veículo, antes ou após  uma curva fechada.  Não  raro nos deparamos com tratores e outros tipos de máquina agricolas tornando-a  tão emocionante quanto o Rabo do Dragão. Eu sempre perguntava o que ele faria se  saisse da curva e desse de cara com um carro no meio da ponte. A resposta, meio a sério meio a brincadeira, era sempre a mesma: “- Me jogo dentro dágua” pois imaginavamos que por trás daquela cerquinha de madeira houvesse um rio correndo sob a ponte. Até que um dia, passando com a Van da filha descobriu que era uma linha férrea debaixo da ponte. Ele iria mergulhar diretamente na caldeira da Maria Fumaça.

 
 

Estas estradinhas cheias de curvas fechadas e com pouco transito são ideais para praticar os procedimentos de uma boa pilotagem em curvas: olhar no ponto à frente onde voce desja que a moto passe; redução de marchas levando o motor a um regime de, no mínimo, 3.000 RPM; leve pressão, para a frente, no punho do lado interno da curva provocando o contra-esterço;  joelhos colados ao tanque de gasolina; pé direito firmemente apoiado na plataforma; pé esquerdo com o calcanhar na plataforma e a ponta do pé levemente apoiada no pedal de cambio; mão direita totalmente no acelerador que, preferencialmente, deve estar completamente fechado no início da curva e suavemente acionado ao seu final; mão esquerda no punho com 2 ou 3 dedos “cobrindo” a manete da embreagem, pronto para fazer uma redução de marcha “dentro”da curva em caso de precisar reduzir mais ainda a velocidade da moto, para isto basta fechar o punho do acelerador pois o “freio motor”se encarrega de reduzir drásticamente a velocidade com total segurança mantendo o pneu traseiro tracionado e com aderencia, ao contrário do que aconteceria se voce utilizasse o freio. O único cuidado com essa manobra é para realiza-la com rapidez porém sem perder a suavidade, usando meia embreagem e dando uma certa aceleração ao motor no momento de soltar a embreagem,  do contrário há o risco da roda traseira dar uma pequena travada o que acarreta um pequeno susto no piloto desavisado.

Como voces podem notar é um monte de informações ao mesmo tempo, ainda por cima  descritas por um péssimo aluno de portuguës. O ideal é que alguém com prática e com uma boa didática nos oriente e a execute à nossa frente para que observemos. Depois invertem-se as posições para que o instrutor observe e  critique nosso desempenho.

Um dia, após um churrasco com o Drew ( o cara que me vendeu a Helo) resolvemos convida-lo para  o passeio. No melhor da festa descobri que a bateria de minha moto tinha ido para o “vinagre”. A Helo pegou no tranco e consegui chegar até uma cidadezinha próxima e entrar no estacionamento de uma floricultura. O dono ameaçou chamar a polícia quando viu 3 motoqueiros “malvadões” invadindo seu estacionamento. Após acalma-lo conseguimos rebocar a Helo para a concessionária HD em Orange para trocar o “estator”. Não tive alternativa senão voltar na garupa da Sabrina Sato com o Cyro fazendo um monte de presepadas para me impressionar. Mal sabe ele que um artista não se impressiona com facilidade. Enquanto vinhamos pela estradinha ele levava a pobre da Sabrina a bailar como uma alucinada mas nada de raspar a pedaleira. Acho que ele ainda estava se adaptando à nova configuração da moto, afinal eram mais 90 Kg sobre a roda traseira. Quando encaramos o transito da cidade parece que ele finalmente pegou a “mão” e começou o festival de raspadas de pedaleira  e de escapamento para espanto dos motoristas que vinham atrás ou ao nosso lado. Interessante como voce não se preocupa com isto quando percebe que o piloto sabe o que está fazendo. Algumas caronas que peguei, a 5 Km/h, me causaram muito mais preocupação do que andar a 80 milhas/h de carona com o Cyro, tirando o receio da gozação dos adversários.