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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

AS 15 MELHORES ROTAS DOS USA - 13



A CAMINHO DE OSHKOSH, A MELHOR FEIRA AERONÁUTICA DO MUNDO
Westby (WI) - Green Bay (WI) 26 julho 2014

Acordei hoje com bastante frio, a temperatura caiu muito à noite. Peguei a Helô, que estava debaixo da marquise na recepção, e coloquei-a ao lado da porta do quarto para facilitar  a arrumação da tralha.  O dia estava ótimo para uma viagem de moto: frio, nublado e sem sinal de chuva. Coloquei a segunda pele, jaqueta de couro, luvas compridas e parti para dar a famosa chance ao destino. Se bem que eu já tinha escolhido ir para Green Bay por ficar a 50 milhas de Oshkosh, se não der certo a oferta do John em Appleton eu fico por lá mesmo visto que consegui um hotel a preço terceiro-mundista.

A estrada me recebeu muito bem. Logo no início, em ambos os lados, flores silvestres azuis e amarelas demarcavam o acostamento. 


Rodei assim por um bom tempo, se bem que às vezes as flores mudavam mas sempre dando um toque de leveza àquele ambiente de caminhões, motos, gasolina e óleo diesel.  



A velocidade, embora limitada a 60 milhas, era facilmente ultrapassado por todos os veículos, exceto duas charretes.  Sim, duas charretes pilotadas por dois caras de camisa branca, suspensórios, barbas enormes e um chapéu de copa alta. Acredito que é uma religião, não recordo o nome, em que as pessoas não usam luz elétrica, máquinas e outras modernidades. Eles usam um triangulo amarelo pendurado atrás para chamar a atenção dos carros. A maior loucura.



Algumas milhas, após passar pelos malucos, ao final de uma reta vejo uns caminhões parados à beira da estrada e dois deles são vermelhos. Bombeiros, pensei. Já reduzi, liguei a seta e entrei no pátio. Realmente tinham dois caminhões vermelhos mas não eram carros de bombeiro. Não fiquei decepcionado pois um deles, um Ford 1938, trouxe recordações do meu pai e do tio Anélio. Meu pai largou 16 anos de Corpo de Bombeiros e a Orquestra Sinfônica Brasileira e se mandou com a família para Guiricema onde comprou, em sociedade com meu tio, um caminhão Ford 1938 para trabalharem com frete !  Época de chuvas + estrada de barro + cachaça + violão = falência !  Para nós, crianças, foi uma farra mas levou tempo para estabilizar novamente, agora sem Corpo de Bombeiros, só OSB. Acho que meu primo tem uma foto desse caminhão ainda. Após fazer a foto dos 3 caminhões (o 1936 é o mais charmoso) continuei meu caminho.



Parei para fazer um lanche, esticar as pernas e abastecer a Helô. O consumo dela, transformando em km, está na casa dos 18 Km por litro. Acho alto mas as velocidades também tem sido em torno de 75 a 80 milhas e a bichinha só tem 5 marchas.
Segui em frente e quando estava quase secando outro tanque me aproximo de um vilarejo, reduzi procurando um posto e vi um caminhão International igual ao do meu amigo Alan. Parei na hora e perguntei ao dono se podia fotografa-lo, ele não só concordou como abriu porta, capô do motor e me disse que o caminhão está na família há 22 anos e ainda trabalhando. Ele estava com 2 tratores antiquíssimos na carreta.  







Despedimo-nos e segui em busca de um posto de gasolina quando cruza comigo um enorme carro de bombeiros amarelo, lindo. Mais adiante, uma pequena aglomeração, outro enorme carro de bombeiros amarelo parado, um bombeiro (com o capacete tradicional e BERMUDAS) correndo de um lado para o outro e eu sem poder acreditar na minha sorte: UM INCÊNDIO, que beleza ! Mas que decepção ! Foi um incêndio mixuruca, talvez uma lata de lixo ou coisa menor. Mas o carrão estava lá e tirei todas as fotos possíveis. A cidade chama-se "Wild Rose"  e tem 750 habitantes. Os bombeiros são voluntários mas achei o cúmulo o cara ir para um incêndio de bermudas. Por outro lado, dois caminhões daquele porte numa cidade de 750 habitantes já é sacanagem.



Mas a viagem não tinha acabado e quando vou chegando próximo a Green Bay, meu destino, sou ultrapassado por uma Corvette conversível. Legal, pensei, bonito carro. Nisso, outra Corvette conversível me ultrapassa. Pô, que coincidência ! Mal acabo de pensar isto, uma outra Corvette conversível. Agora chega. Isso é alguma pegadinha, por via das dúvidas passei a pilotar com uma das mãos e com a outra ia fazendo foto das 5 Corvettes, todas conversíveis. E eu sem nenhuma, injustiça. Vou fundar o MSCC, Movimento dos Sem Corvette Conversível.




Cheguei ao hotel, descarreguei a bagagem, após um belo banho e um lanche no restaurante em frente resolvi testar minha sorte: telefonar para o John e ver se a oferta de estadia estava valendo ou foi apenas algo parecido com oferta de carioca. Tipo “passa lá em casa” porem o cara não lhe dá  endereço nem telefone. Que nada meus amigos, o cara lembrou de mim na hora (também com meu inglês de cais do porto, né ?). Combinamos que eu iria no dia seguinte para sua casa, na cidade de Appleton a 35 milhas de Green Bay onde eu estava. Prestes a realizar um sonho sabia que teria uma noite agitada sonhando com aviões e batalhas aéreas.


OSHKOSH – AIR VENTURE, A REALIZAÇÃO DE UM SONHO.
Oshkosh (WI) - 28 de julho a 3 de agosto 2014

Após chegar à casa do John ontem à tarde, fui apresentado a seus filhos (que tem as idades dos meus) e netos. Após o lanche ele levou-me para conhecer a fábrica de esquadrias, portas e janelas de sua propriedade. À noite assisti a um painel, onde ele era o convidado, com estudantes de uma Universidade. Hoje pela manhã, após o desjejum ele me deu todas as coordenadas sobre a Feira Aeronáutica e parti para o aeroporto de Oshkosh com o coração aos pulos. Dessa vez a arritimia tem um motivo nobre para me sacanear: aviões......milhares deles e, o melhor, você pode circular no meio deles.

A feira aeronáutica de Oshkosh reúne mais de 500.000 pessoas e é conhecida como AirVenture.  Seu criador é uma lenda no meio aeronáutico: Paul Poberezny, nascido em 1921 e falecido em 2013. 



Ao final de seu tempo de serviço na USAF (com participação na II Guerra e na Coréia) dedicou-se a projetar e construir aviões experimentais. Isso levou-o a fundar a EAA - Experimental Aircraft Association e organizar encontros anuais para troca de informações e divulgação da aviação experimental. Apesar do sucesso de tais encontros ele sonhava com um local próprio, com pistas de pouso, museu, salas de aula, oficinas, camping e todos os requisitos necessários para transformar o local num ponto de referência aeronáutico mundial.  Conseguido o terreno ele, com a impressionante (para nós estrangeiros) ajuda da comunidade, levantou os recursos necessários e o resto é história.



No prédio da administração existem paredes com pequenos bloquetes de madeira, em cada um deles o nome da pessoa (física ou jurídica) que contribuiu para a construção do aeroporto de Oshkosh. Como se não bastassem os aviões ele tinha mais duas paixões que o colocam num patamar elevadíssimo em meu conceito. Confiram.





Dizem que um carinho no joelho da "pin-up" traz sorte durante uma semana. Acho que no meu caso terei sorte pelo resto da vida visto que a região acariciada é bem mais estratégica do que o joelho.


As B-25 de Dolitle do lendário "raid" sobre Tóquio decolando de um porta-aviões no momento em que os americanos estavam no fundo do poço, injetando ânimo nas suas combalidas FFAA a despeito dos resultados materiais insignificantes.


Os magníficos P-38 Lightning, que interceptaram e derrubaram o avião do Almirante Yamamoto privando o Japão de seu maior estrategista numa das mais incríveis histórias de espionagem da II Grande Guerra. Como se não bastasse, o próprio desenvolvimento do revolucionário P-38 pela Lockheed,  é uma história saborosa pela forma como se desenrolou, desde o projeto até sua "apresentação"  aos meios de comunicação através de um ousado golpe publicitário de seu mentor: o genial Howard Hughes. 



O P-40 dos "Tigres Voadores" que combateram na China sob Walter Chenault.


O "Cadillac dos Ceus", o elegante P-51 Mustang da esquadrilha "Red Tail", composta só de negros, que escreveu umas das mais lindas páginas na luta contra o preconceito racial.





O encontro mais aguardado do século !

Quando ví que o sacana do Barão Vermelho também estava na Feira sai como um alucinado procurando um Sopwith Camel, quando encontrei o stand do fabricante deixei a Helô como garantia e já estava providenciando o abastecimento quando veio a notícia pelos alto-falantes que eles bateu em retirada.


Patife ! No próximo ano ele não escapa...


Uma coisa que impressiona em Oshkosh é a quantidade de Universidades e Institutos que disponibilizam cursos na área aeronáutica. Não é por acaso a liderança americana nesta área.  






Por outro lado, apesar da desproporção, é um orgulho muito grande ver nossa Embraer competindo em nível de igualdade na aviação executiva e de porte médio com gigantes do setor. Em 2013 a Embraer inaugurou uma fábrica na Flórida onde fabrica jatos executivos. Fico imaginando onde chegaríamos se  investíssemos em educação de qualidade !

Acreditem vocês ou não, com o peito quase explodindo de orgulho, assisti aos gringos fazerem fila para um "tour" pelo interior do EMB-190 da nossa Embraer. Isso sem falar na briga em que ela está para fornecer Tucanos para a USAF !


A feira não é apenas uma exibição de aviões, durante 6 dias são disponibilizados centenas de "foruns" e "work-shops" além de exibição de veículos que, de alguma forma, tem um apelo aeronáutico. Dias antes de iniciar a feira toda a agenda já está definida e você recebe uma revista com os detalhes, datas e duração de cada palestra.






Além dos aviões,propriamente ditos, uma série de itens e personagens ligados de alguma forma à aviação se fazem presentes nesta fantástica feira, inclusive veteranos, como por exemplo, um piloto de B-17 da II Grande Guerra, um Auburn Cord com motor Lyncoming, uma trinca de Ford GT-40, caminhões de bombeiros para aeroportos, entre muitos outros itens.
















No último dia assisti a exibição dos Blues Angels com seus Thunderbirds. Um dos destaques era a Major Caroline Jensen, natural do Wisconsin, voando como número 3, a posição à direita do líder na formação "diamante". Ela foi a primeira mulher a integrar os Blues Angels e tem experiência de mais de 200 horas de vôo em combate no Iraque.







Além dos Blues Angels, a AirVenture sempre é encerrada com uma cerimônia chamada “Glorification” que turistas, de um modo geral, desconhecem já que ocorre bem tarde. Trata-se de uma homenagem aos veteranos de todas as armas americanas. Eles chegam em um vôo especial de Washington, onde foram prestar homenagem aos seus companheiros já falecidos. O avião em que chegam sai da pista e vem “taxiando” até próximo ao enorme palco onde bandas se revezam até sua chegada. 

Após o avião passar por um túnel de água formado pelos carros de bombeiros e abrir as portas, cada veterano (alguns em cadeiras de rodas) descem e atravessam um corredor formado pela Guarda Nacional em continência e caminham em direção aos parentes e amigos que os aguardam. 





Quase todos se emocionam ao ver aqueles velhos guerreiros com lágrimas rolando furtivamente mas sem deixar de prestar  saudação à sua bandeira.



A DESPEDIDA


No dia seguinte acordei cedo e sabia que a estrada me aguardava mas estava difícil despedir-me daquela gente que tanto carinho e atenção teve com um brasileiro que eles conheceram pela primeira vez em uma parada na estrada. 




Não sei se voltaremos a nos ver, espero que sim mas de toda a forma eles estão registrados em minhas melhores lembranças. Não só pelo forma como fui tratado mas pela oportunidade que tive de aprender um pouco mais sobre este belo país e muito sobre gás e petróleo de folhelho além de participar de uma pequena mesa redonda (no Rotary Club) sobre o tema onde, com meu inglês de Praça Mauá, tive que resumir, omitindo algumas partes de que me envergonho, a posição de nosso país em relação ao petróleo.
A nossa despedida foi feita de uma maneira suave: um tour pela bela cidade de Appleton. 









Ao final, montei na Helô que já estava preparada, dei  partida e, como se fosse o último dos velhos “War Birds”, decolei como que  para cumprir a derradeira missão.