NATCHEZ TRACE PARKWAY GARANTE O ROYAL STRAIGHT FLUSH !
Crossville (TN) - Muscle Shoals (AL) - 20 agosto 2014
Meus amigos, hoje é só alegria, encontrei a carta que faltava ao meu
jogo e consegui fechar o tão sonhado
Royal Straight Flush ! É uma
história meio louca mas vale a pena ser contada.
Quando vim para a gringolandia não tinha nenhum roteiro adredemente
preparado (céus, acho que abusei de Jack Daniel's) . Não sou contra quem tem seu roteiro e um planejamento
prévio, afinal as situações são diferentes. No meu caso estou sozinho, tenho
tempo e uma retaguarda fabulosa que são os meus garotos. Os caras resolvem tudo
para mim e sempre me estimulam a seguir em frente e realizar meus sonhos, eles
vibram a cada conquista e sentem orgulho por ter um pai meio maluco que cisma
de pilotar motocicleta e bem, modéstia à parte, aos 72 anos de idade. Voltando ao tema, eu não tinha roteiro, assim
como no ano passado, e a rotina era acordar, montar na moto, colocar a proa no
horizonte e dar uma chance ao destino. Na hora decidia para onde ia e no fim
dava certo, sempre deu certo. O fato é que estava nesta toada quando, numa
troca de mensagens, o Carlos Schaeffer me mandou a tal relação das 15 melhores
rotas para motocicleta dos Estados Unidos e perguntou se eu já conhecia.
Algumas ( 3 ou 4) já tinha feito, outras conhecia de nome e 6 ou 7 jamais ouvi
falar, entre elas a tal de Natchez Trace Parkway, com 440 milhas. Como o Dotô
Badá Barreto da Lapa (e adjacências) também tinha falado maravilhas da costa do
Pacífico, juntei a fome com a vontade de comer pois alguns dos roteiros da
relação estavam na California. Além disso, meu sobrinho Rodrigo recomendou-me
bastante a Route One, principalmente no trecho entre San Simeon e Carmel. Nesse momento eu estava em Dodge City e uma
das Rotas era a tal de Million Dolar Highway ligando Durango a Ouray. Parti
para lá mas já pensando num roteiro que abrangesse o maior número possível das
tais 15 melhores. Consegui, até ontem,
percorrer 14 das 15 e ficou me faltando apenas a tal de Natchez Trace Parkway.
Fiquei até tarde ontem tentando descobrir onde essa danada começava. Depois de
muito pesquisar acabei descobrindo e hoje.....BINGO ! Estou rodando pela TRACE !!!!!! Me permito
até chama-la dessa forma tal a intimidade que já existe entre nós.
Mas comecemos pelo princípio. A dica que eu obtive é que a tal da Trace
começa (ou termina dependendo do ponto de vista) em Fairview, município de
Williamson County. Seguindo as orientações da louca do GPS logo estava
pilotando em uma área rural, cruzando fazendas muito bem cuidadas porém debaixo
de um calor tremendo.
O estado dessas estradas secundárias impressiona, asfalto de ótima
qualidade, muito bem sinalizadas e com toques de bom humor, como demonstra esta
parelha de carros em exibição no acostamento.
Após cruzar com os dois veteranos veículos deparei-me com a sinalização
para a Natchez Trace e, bem em frente, um posto de bombeiros voluntários obrigando-me
a uma parada para apreciar as viaturas e descansar a pele que já estava virando
torresmo debaixo de um sol que parecia maçarico de acetileno.
Voltando à estrada, a tradicional parada para fotos em frente à placa
anunciando a última das 15 melhores estradas para moto. Uma emoção enorme me
envolveu e, com muita humildade, fiz daquele um momento de agradecimento pela
graça alcançada e que, sinceramente, não me julgo merecedor. A essas alturas da vida, percorrer 15 maravilhosas estradas, pilotando uma charmosa motocicleta, com os reflexos razoavelmente em ordem e uma profunda consciência deste privilégio foi, com certeza, mais um dos incríveis presentes com que a vida tem me brindado. Obrigado, muitíssimo obrigado a todos que de alguma forma me ajudaram nessa jornada.
O traçado da estrada remonta alguns séculos quando ele dividia as terras
originais das nações Natchez, Chicasaw e Choctaw. Quando os Estados Unidos se
expandiu para o Oeste, um número crescente de brancos percorria aquele traçado
criando uma trilha o que levou o Presidente Thomas Jefferson, em 1801, a
designar a Trace uma estrada postal nacional para levar correspondência de
Natchez a Nashville o que veio a ligar 3 estados: Tennessee, Alabama e
Mississippi. Ela passou a integrar o Sistema Nacional de Parques em 1938 e foi oficialmente concluida em 2005.
Até agora percorri umas 150 milhas da Trace, amanhã volto para ela. O
objetivo e percorre-la "in totum" (cacilda, hoje estou flórida) assim
como fiz com as 480 milhas da Blue Ridge. O que ví justifica, com sobras, ela
estar na relação e ser considerada a estrada mais importante do Sudoeste
americano. A estrada é de uma pista com mão dupla, vedada a veículos comerciais
e sua conservação é primorosa além de ter um dos melhores asfaltos por onde já
passei (aliás uma característica do Tennessee). Ela difere da Blue Ridge, por
ser plana e as curvas mais suaves, o que permite velocidades maiores (embora a
máxima seja 50 milhas) e não exija muita "mão de obra" na pilotagem.
Você pode acionar o Cruise Control e curtir a viagem. O transito é quase
nenhum, muito diferente da Blue Ridge, cruzei apenas com umas 3 ou 4 motos e
outro tanto de carros.
Existem muitos pontos históricos e tudo muito bem sinalizado, onde você
pode parar e conferir uma mina de fosfato abandonada, um memorial de um dos
campos de batalhas da guerra de 1812, entre outros.
A travessia do Tennessee River é um espetáculo que deve ser degustado
com calma e tranquilidade. Estacionei a Helô ao pé da ponte (tem uma área de
descanso ótima), fiz as fotos de praxe e fiquei pensando na morte da bezerra,
como dizia minha mãe quando eu ficava lendo os jornais que colocava no chão, à
guiza de tapete, após encerar o chão do apertamento (cêra Tabu e escovão).
No meio da viagem eu ia com a câmera na mão quando avisto um vulto à
beira da estrada, reduzi a velocidade meio ressabiado e de repente identifico
um cachorro.
O bichinho começou a correr atrás da moto o que me levou a
estacionar mas sem saber o que fazer. Fiquei esperando o cachorro pois nós dois
juntos poderíamos chegar a algum consenso.
Será que se eu carregar esse cachorro vai dar merda, pensei. Vai que
esses malucos achem que estou sequestrando o bichinho. Bem, vamos ver se ele
tem uma coleira com o telefone dos pais.
Ele parou a alguma distancia, chamei, assoviei, acenei e ele nada.
Só
então percebí que fiz isso tudo em português. Mudei imediatamente de idioma e
foi pior, o bichinho sumiu numa desabalada carreira.
Montei na Helô filosofando:
"Cachorro é tudo igual, só é bom mesmo no habitat dele: a casa dos
outros".
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