Terminado o Rabo do Dragão, as motos revisadas, eu sem ter o que fazer, resolvi aderir a um saudável hábito do Gus e da Bear:
Isto começou a preocupar o pessoal, principamente quando meu latido era melhor entendido, aliás muito melhor, do que meu inglês.
Brincadeiras à parte, chegamos a conclusão que estava na hora de botar as motos na estrada, assim começamos a planejar uma nova incursão.
Que tal o Canada ? Sim, Canada nos pareceu uma boa ideia, Montreal em particular. Começamos a fazer os preparativos quando o Cyro lembrou-se que a filha e os netos estavam se preparando para embarcar para a Africa. Como bom pai e avô, naturalmente depois de reclamar muito, resolveu ficar curtindo a familia e eu fui encarregado de cumprir sózinho o roteiro Charlottesville-Montreal-Charlottesville . A saida seria no dia 2 de junho e o Cyro iria me escoltar até Front Royal (cerca de 100 milhas de Charlottesville) e depois voltar.
Isto começou a preocupar o pessoal, principamente quando meu latido era melhor entendido, aliás muito melhor, do que meu inglês.
Brincadeiras à parte, chegamos a conclusão que estava na hora de botar as motos na estrada, assim começamos a planejar uma nova incursão.
Que tal o Canada ? Sim, Canada nos pareceu uma boa ideia, Montreal em particular. Começamos a fazer os preparativos quando o Cyro lembrou-se que a filha e os netos estavam se preparando para embarcar para a Africa. Como bom pai e avô, naturalmente depois de reclamar muito, resolveu ficar curtindo a familia e eu fui encarregado de cumprir sózinho o roteiro Charlottesville-Montreal-Charlottesville . A saida seria no dia 2 de junho e o Cyro iria me escoltar até Front Royal (cerca de 100 milhas de Charlottesville) e depois voltar.
02 de Junho (Charlottesville, VA)
Naturalmente que imprevistos são uma constante em nossas viagens. Ja´saimos
quase meio dia. Após rodar umas 40 milhas, a embreagem da moto do Cyro parecia que estava indo para o brejo e, como se não bastasse, lembramo-nos de que esqueci de pegar meu passaporte. O
remédio foi voltar, pegar o bendito passaporte e partir sózinho. A opção foi a Skyline Drive, uma estrada de
umas 70 milhas que atravessa o Shenadoah National Park em direção leste como se
fora uma continuação da Blue Ridge Parkway.
As curvas da Skyline são
frequentes, com pouquíssimos locais para ultrapassagens o que, aliado a
constante travessia de animais e a uma velocidade limite de 35 milhas na maior
parte do tempo, torna nossa velocidade media muito baixa. Alem disso o
policiamento se faz presente, ao contrário da Blue Ridge. A paisagem é soberba
e a estrada, sem acostamento e com menos overlock, muito bem cuidada. Durante a
travessia passei por um susto quando vi uma bicicleta caida no acostamento e um
carro parado na estrada com a porta do motorista aberta sem ninguem dentro.
Reduzi a velocidade e o que vi deixou-me o sangue gelado. Um urso preto quase da minha altura, comendo
placidamente quase no acostamento com o ciclista e a motorista do carro tirando
fotos do bicho a uns 2 metros de distancia. Eu, que ja ia parando pensando em
acidente, engatei uma primeira e sai acelerando forte com medo que o sacana do
urso viesse pegar uma carona na moto. Eu hein, já pensou um urso fungando no
seu cangote !
Parei num overlock mais à frente para tomar folego, preparei a máquina
fotográfica no tripé e coloquei-a em self-timer quando vi um veado parado na pista.
Apertei o botão e após os 10 segundos ouvi o click. Confesso que nem eu mesmo
consigo enxergar o bichinho pois estava um pouco distante e ele foi para o lado
da sombra. De qualquer forma a foto está postada e acreditem em mim : tinha um
veado na pista !
Na saida do parque mais uma surpresa,
uns 50 metros à minha frente um filhote de urso preto atravessa a pista
numa embalada só, quando ele acabou de passar foi minha vez de acelerar pois
onde há filho há mãe e não estou aqui para ouvir uma mamãe ursa me perguntando:
“-Voce viu aquele moleque por aqui “.
Após as emoções da travessia e chegando a Front Royal já escurecendo,
resolvi pernoitar e prosseguir a viagem no dia seguinte.
03 de junho ( Front
Royal, VA)
Acordo bem cedo e por um bom motivo. Em nossas viagens consultamos
diariamente a metereologia que, por aqui, tem um índice de acerto próximo de
100 %.
http://weather.weatherbug.com
A previsão era nuvens pela manhã com probabilidade de chuva fraca e fortes pancadas à tarde. Como não tenho uma roupa de chuva decente, optei por aproveitar o máximo possível a parte da manhã.
http://weather.weatherbug.com
A previsão era nuvens pela manhã com probabilidade de chuva fraca e fortes pancadas à tarde. Como não tenho uma roupa de chuva decente, optei por aproveitar o máximo possível a parte da manhã.
Um outro estudo que faço é com relação às estradas que vou encontrar
pela frente e para isso o “HD RIDE PLANNER” é uma senhora ferramenta que
além mostrar todas as alternativas de
estradas, exibe os “dealers” HD na rota bem como hotéis (com descontos de 10 %
para motociclistas) e eventos programados para aquela região em que voce está. Você
monta o seu roteiro, salva-o e pode carrega-lo no GPS através de um cabo USB.
www.harley-davidson.com/wcm/rideplanner/
Sempre que possível evito as grandes, movimentadas e monótonas estradas americanas, a não ser quando preciso chegar rápidamente a meu destino. Na maioria das vezes escolho estradas secundárias, que atravessem áreas particularmente atraentes ou históricas e, principalmente, que tenham curvas. Normalmente essas estradas secundárias são procuradas por motociclistas nativos e atravessam pequenos condados.
Com frequencia cruzo com grupos de motociclistas que, invariavelmente, me cumprimentam com o “wave” (mão esquerda voltada para baixo, num angulo de 45 graus, com dedo médio e o indicador formando um V).
Quando coincide de encontra-los em alguma parada, o cumprimento é respeitoso e cerimonioso, normalmente um aceno de cabeça. Nunca tive problemas com nenhum deles, muito pelo contrário. Não foram poucas as vezes que fui convidado para integrar alguns “bondes”. O que faço nesses casos é acompanha-los por algum trecho, despedir-me logo que possível e voltar a meu próprio ritmo: parando ao ver uma bela paisagem, tirando fotos quando julgo que vale a pena e, principalmente, adotando um estilo de pilotagem de acordo com o nível de risco que estou disposto a adotar. Lembrem-se de que estou sózinho, numa moto com quase 30 anos de uso e, para completar, muito longe de casa. De qualquer forma, acompanho o fluxo sem problemas mas sem me expor desnecessáriamente. Se bem que as velocidades nas estradas secundárias (e que estradas !) são naturalmente mais baixas do que nas grandes rodovias. Em geral 55 milhas é a máxima mas um excesso de até 10 milhas não me causou nenhum problema. Por outro lado, por serem estradas que margeiam e cortam parques e florestas (Green Ridge State Forest, Bushanan State Forest, Gallitzin State Forest, etc) tem pouquíssimas retas o que me permitiu treinar com vontade curvas de todos os tipos.
Quando não conseguia ver o final da curva, redução levando a máquina(uma Honda Goldwing 1200) a, no mínimo, 4.000 giros, entrada na curva pelo seu lado externo, olhar o mais a frente possíve tentando encontrar o ponto de tangencia, leve pressão na manete do lado interno da curva fazendo o contra-esterço, peso do corpo na pedaleira interna da curva, respiração cadenciada, dois ou tres dedos “cobrindo” a embreagem, pé esquerdo SEMPRE por cima do pedal do cambio e manopla do acelerador suavemente acelerada e, claro, um sorriso nos lábios sabendo que estava fazendo um belo trabalho. Em alguns casos, quando a curva se acentuava, bastava fechar o punho do acelerador para o “freio motor” atuar reduzindo a velocidade da moto sem desequilibra-la e mantendo-a tracionada, aumentando a inclinação da moto permitindo acentuar o contra-esterço. Em situações bem críticas mesmo (não aconteceu mas simulei para efeito de treinamento), a curva começa de uma forma e vai fechando do meio para o final (no fim da Serra das Araras tem uma que é um ZERO) , primeiro fechava o acelerador e caso o “freio-motor” não reduzisse para uma velocidade adequada rápidamente reduzia para uma marcha inferior.Lembrem-se de que eu estava com tres dedos “cobrindo” a embreagem e o pé direito por CIMA do pedal do cambio, o que me permitia redução de marcha muito rápida e muitíssimo mais segura do que pensar em usar qualquer um dos freios.
www.harley-davidson.com/wcm/rideplanner/
Sempre que possível evito as grandes, movimentadas e monótonas estradas americanas, a não ser quando preciso chegar rápidamente a meu destino. Na maioria das vezes escolho estradas secundárias, que atravessem áreas particularmente atraentes ou históricas e, principalmente, que tenham curvas. Normalmente essas estradas secundárias são procuradas por motociclistas nativos e atravessam pequenos condados.
Com frequencia cruzo com grupos de motociclistas que, invariavelmente, me cumprimentam com o “wave” (mão esquerda voltada para baixo, num angulo de 45 graus, com dedo médio e o indicador formando um V).
Quando coincide de encontra-los em alguma parada, o cumprimento é respeitoso e cerimonioso, normalmente um aceno de cabeça. Nunca tive problemas com nenhum deles, muito pelo contrário. Não foram poucas as vezes que fui convidado para integrar alguns “bondes”. O que faço nesses casos é acompanha-los por algum trecho, despedir-me logo que possível e voltar a meu próprio ritmo: parando ao ver uma bela paisagem, tirando fotos quando julgo que vale a pena e, principalmente, adotando um estilo de pilotagem de acordo com o nível de risco que estou disposto a adotar. Lembrem-se de que estou sózinho, numa moto com quase 30 anos de uso e, para completar, muito longe de casa. De qualquer forma, acompanho o fluxo sem problemas mas sem me expor desnecessáriamente. Se bem que as velocidades nas estradas secundárias (e que estradas !) são naturalmente mais baixas do que nas grandes rodovias. Em geral 55 milhas é a máxima mas um excesso de até 10 milhas não me causou nenhum problema. Por outro lado, por serem estradas que margeiam e cortam parques e florestas (Green Ridge State Forest, Bushanan State Forest, Gallitzin State Forest, etc) tem pouquíssimas retas o que me permitiu treinar com vontade curvas de todos os tipos.
Quando não conseguia ver o final da curva, redução levando a máquina(uma Honda Goldwing 1200) a, no mínimo, 4.000 giros, entrada na curva pelo seu lado externo, olhar o mais a frente possíve tentando encontrar o ponto de tangencia, leve pressão na manete do lado interno da curva fazendo o contra-esterço, peso do corpo na pedaleira interna da curva, respiração cadenciada, dois ou tres dedos “cobrindo” a embreagem, pé esquerdo SEMPRE por cima do pedal do cambio e manopla do acelerador suavemente acelerada e, claro, um sorriso nos lábios sabendo que estava fazendo um belo trabalho. Em alguns casos, quando a curva se acentuava, bastava fechar o punho do acelerador para o “freio motor” atuar reduzindo a velocidade da moto sem desequilibra-la e mantendo-a tracionada, aumentando a inclinação da moto permitindo acentuar o contra-esterço. Em situações bem críticas mesmo (não aconteceu mas simulei para efeito de treinamento), a curva começa de uma forma e vai fechando do meio para o final (no fim da Serra das Araras tem uma que é um ZERO) , primeiro fechava o acelerador e caso o “freio-motor” não reduzisse para uma velocidade adequada rápidamente reduzia para uma marcha inferior.Lembrem-se de que eu estava com tres dedos “cobrindo” a embreagem e o pé direito por CIMA do pedal do cambio, o que me permitia redução de marcha muito rápida e muitíssimo mais segura do que pensar em usar qualquer um dos freios.
Bem amigos, foi assim, bailando com minha Camila, tentando aprimorar
minha pilotagem, curtindo paisagens maravilhosas e, vez por outra, pensando em
voces que nem me dei conta da chuva chegando. Ainda era cedo mas ela veio com
força, com raios e trovões, eu já tinha rodado 180 milhas e estava passando bem
em frente a um motelzinho baratim em Philipsburg. Ai também ninguém é de ferro. Combinei com a
Camila que prosseguiriamos no dia seguinte, no que ela concordou alegremente e
com um certo alívio. Parece que ouvi-a falar: “- Esse porralouca de velho
sequelado agora deu para treinar curvas. Quem ele pensa que é, o Giacomo
Agostini ! Para mim não passa de mais um Barrichelo da vida”. Injustiça !
04 de junho
(Philipsburg, PA)
Meteorologia prevendo chuva para Niagara Falls e Toronto mas não tenho
muito o que fazer a não ser prometer comprar
uma roupa de chuva na primeira HD que encontrar. Após um café da manhã
daqueles bem sem vergonha, montei na Camila que a essas alturas já estava com o
tanque cheio e apontei a proa da doce criatura na direção de Buffalo (NY). A
estrada atravessa a Allegheny National Forest, quase toda na Pennsylvania.
Por um lado é um cenário lindo mas a gente sabe que não tem almoço de graça e esse, no caso, era cobrado em forma de chuva. O treinamento de curvas ficou para outro dia, o negócio era manter a concentração na estrada pois eu estava cismado que a moto dava umas “reboladinhas” sem motivo nas retas, o fenomeno não ocorria nas curvas, o que me deixava mais “grilado” ainda. Sempre que parava nos postos olhava os pneus, em especial o traseiro já que o dianteiro é praticamente novo. Não via nada de anormal e pensava cá com meus botões: “Ou é o sacana do alemão querendo me agarrar, o Alzheimer, ou a danada da Camila tá na TPM !”. Só fui descobrir, quando cheguei a Charlottesville de volta, que o óleo do amortecedor traseiro esquerdo vazou completamente. Ainda bem, pois pilotando debaixo de um aguaceiro durante quase todas as 145 milhas cheguei a Springville a 35 milhas de Buffalo que era meu destino. Eu estava perto mas não valia a pena prosseguir. O pior de tudo era a água que descia pelas costas e daí bunda abaixo. Constrangedor ! Ainda mais que eu estava com uma tal de “chaparreira”, aquelas calças que cow-boys usam que, como se não bastasse, estava com o cinto descosturado, o que me obrigava a segura-la para que não caisse nas paradas hidráulicas (voces sabem, remédio para hipertensão dá uma “mijoleira” dos diabos).
Aboletei-me no primeiro “Super 8” que encontrei e consegui, com a recepcionista, agulha e linha para fazer um “gatilho” na tal “chaparreira”. Enquanto costurava, não sei porque, me veio à cabeça aquele filme “O segredo da montanha das bichonas”. Credo ! Vade retro !
Por um lado é um cenário lindo mas a gente sabe que não tem almoço de graça e esse, no caso, era cobrado em forma de chuva. O treinamento de curvas ficou para outro dia, o negócio era manter a concentração na estrada pois eu estava cismado que a moto dava umas “reboladinhas” sem motivo nas retas, o fenomeno não ocorria nas curvas, o que me deixava mais “grilado” ainda. Sempre que parava nos postos olhava os pneus, em especial o traseiro já que o dianteiro é praticamente novo. Não via nada de anormal e pensava cá com meus botões: “Ou é o sacana do alemão querendo me agarrar, o Alzheimer, ou a danada da Camila tá na TPM !”. Só fui descobrir, quando cheguei a Charlottesville de volta, que o óleo do amortecedor traseiro esquerdo vazou completamente. Ainda bem, pois pilotando debaixo de um aguaceiro durante quase todas as 145 milhas cheguei a Springville a 35 milhas de Buffalo que era meu destino. Eu estava perto mas não valia a pena prosseguir. O pior de tudo era a água que descia pelas costas e daí bunda abaixo. Constrangedor ! Ainda mais que eu estava com uma tal de “chaparreira”, aquelas calças que cow-boys usam que, como se não bastasse, estava com o cinto descosturado, o que me obrigava a segura-la para que não caisse nas paradas hidráulicas (voces sabem, remédio para hipertensão dá uma “mijoleira” dos diabos).
Aboletei-me no primeiro “Super 8” que encontrei e consegui, com a recepcionista, agulha e linha para fazer um “gatilho” na tal “chaparreira”. Enquanto costurava, não sei porque, me veio à cabeça aquele filme “O segredo da montanha das bichonas”. Credo ! Vade retro !
05 de junho
(Springville, NY)
Bem, hoje é o dia. Vou passar em Buffalo e comprar uma roupa de chuva na
HD, naturalmente escolhendo uma cor discreta e depois cruzar a fronteira com o
Canada. O Alaska está logo ali em cima, pensei.
O dia prometia, começou bem logo cedo, de vez em quando a gente pega um
Super 8 com o café da manhã decente e esse era um deles. Outra coisa que me
deixou satisfeito foi o “gatilho” que fiz na tal da chaparreira, embora tenha
quebrado duas agulhas a sacana já não caia.
Empanturrei-me de wafles com aquele melado que faz nossa glicose
disparar rumo à estratosfera, vesti-me à carater e parti pronto para o que
viesse e desse. Primeiro uma parada em Buffalo para a compra da sensacional
roupa de chuva que, eu tinha certeza, espantaria toda a chuva do meu caminho e
ficaria guardada eternamente no bagageiro da moto.
Roupa comprada, GPS “setado” para a fronteira com o Canada, que está logo ali a 14 milhas de distancia. Bastante movimento mas nada que se compare a uma Linha Amarela num sábado pela manhã. No caminho vou pensando se devo modificar um pouco a pronuncia do meu inglês, afinal os canadenses tem uma certa influencia francesa, etc e tal mas pensei melhor e achei melhor deixar como está, ou seja: uma bosta. Eis que chego na fronteira e na minha vez de fazer a imigração, entro com a moto em uma baia, uma policial muito simpática me atende e pede o meu visto. Visto, que visto, penso eu. Já tenho visto americano e pela dificuldade de consegui-lo ele deveria me permitir entrar até em Marte. Não, eu teria de ter um visto para o Canada. Chateadíssimo mas sabendo que as regras aqui são cumpridas falei com a policial que não me restava alternativa senão voltar pelo mesmo caminho. Nããããoooooo, voltar é o cacete. Com meus documentos (passaporte e documentos da moto) presos, a cancela trancada, fui encaminhado por dois policiais (sem algemas, talvez devido à idade) para uma sala onde me perguntaram um monte de coisas e eu respondi outros tantos. Se as respostas eram coerentes com as perguntas não sei mas os caras me entregaram um formulário, cheio de carimbos e siglas que eu deveria entregar na volta, na imigração americana. Não tem como escapar, uma fica a 50 metros da outra. Quando chego na imigração americana é que o caldo entornou de vez. Ainda tive tempo de passar um rádio para o Cyro ( tinha um carro na minha frente ) e dizer que achava que iam me passar a "pulseira". Chega minha vez, o tal do formulário dizia simplesmente que tentei entrar ilegalmente no Canada a partir dos EEUU. Agora era a policial americana, muito menos simpática, desconfiadíssima até mesmo da minha heterosexualidade pois ao conferir a placa da moto com meu nome e o certificado em nome do Cyro começou a imaginar coisas que nem me atrevo a pensar, a filadaputa. Agora a coisa ficou séria. Travaram os documentos e a moto. Fui encaminhado para uma sala onde tinham uns 30 “foras-da-lei” como eu. De chaparreira e colete de couro não me sentia deslocado no meio daquela babel, era nego de turbante, outro com um quipá, a mulher cheia de véus, 4 chineses quietinhos num canto, uma familia cucaracha falando alto e tomando “esporro” e eu ali quieto, esperando os “comandos” brasileiros saltarem de para-quedas e resgatarem-me a qualquer momento. Como os “comandos” deveriam estar em greve ou em alguma passeata gay, depois de quase 3 horas fui chamado por um policial que aceitou minha explicação. Sai dalí frustrado, tenso mas resolvi tirar uma foto daquele açude metido a besta senão a oposição não acreditaria que estive lá. Parei a moto num estacionamento, tripoide com camara fotográfica às costas vou caminhando em direção a tal de cachoeira procurando um local para fazer o registro fotográfico. Eis que vejo a entrada de um parque, com uma tabuleta ideal para meu propósito. Acontece que tinham 3 mulheres batendo fotos, ainda me ofereci para faze-lo mas a resposta veio malcriada e na bucha : “We don’t need any help!”. Danem-se, pensei enquanto aguardava. Acontece que as mulheres eram cucarahcas pois falavam naquele inconfundível castelhano rápido entremeado de risadas. E nada delas acabarem com as fotos. Começou a se formar uma fila com pessoas que também queriam tirar fotos naquele local. Acabei ficando de saco cheio, armei o tripoid com a camara no meio da rua, coloquei a máquina em self-timer, disparei-o e tomei meu lugar em frente a placa. Ah, pra que, as cucarachas começaram a xingar e eu a responder com saudáveis e didáticos “putaquiparius”.
Elas ainda ensaiaram continuar mas parti para uma pose mais ousada.
Depois dessa elas se retiraram soltando os famosos “maricón”, “hijodeputa” e outras maravilhosas expressões castelhanas. A partir desse momento recuperei-me. Brasil 1 x 0 Argentina (não sei de onde elas eram mas adoro pensar que eram argentinas).
Sai dali e fui para Buffalo parando num Subway. Liguei o notebook, falei com amigos e me lembrei de uma sugestão de meu filho Breno: “-Pai, vai a Cleveland, lá tem o Hall of Fame do Rock and Roll. Gaste nossa herança mas gaste com bom gosto e sabedoria !”. Bingo ! Apesar da hora, do cansaço e das confusões, montei na Camila e falei: “-Cleveland, aqui vou eu !” Afinal o que são 200 milhas pilotando uma motocicleta. Como dizem os mineiros espichando o beiço “-É logo ali, sô”.
Roupa comprada, GPS “setado” para a fronteira com o Canada, que está logo ali a 14 milhas de distancia. Bastante movimento mas nada que se compare a uma Linha Amarela num sábado pela manhã. No caminho vou pensando se devo modificar um pouco a pronuncia do meu inglês, afinal os canadenses tem uma certa influencia francesa, etc e tal mas pensei melhor e achei melhor deixar como está, ou seja: uma bosta. Eis que chego na fronteira e na minha vez de fazer a imigração, entro com a moto em uma baia, uma policial muito simpática me atende e pede o meu visto. Visto, que visto, penso eu. Já tenho visto americano e pela dificuldade de consegui-lo ele deveria me permitir entrar até em Marte. Não, eu teria de ter um visto para o Canada. Chateadíssimo mas sabendo que as regras aqui são cumpridas falei com a policial que não me restava alternativa senão voltar pelo mesmo caminho. Nããããoooooo, voltar é o cacete. Com meus documentos (passaporte e documentos da moto) presos, a cancela trancada, fui encaminhado por dois policiais (sem algemas, talvez devido à idade) para uma sala onde me perguntaram um monte de coisas e eu respondi outros tantos. Se as respostas eram coerentes com as perguntas não sei mas os caras me entregaram um formulário, cheio de carimbos e siglas que eu deveria entregar na volta, na imigração americana. Não tem como escapar, uma fica a 50 metros da outra. Quando chego na imigração americana é que o caldo entornou de vez. Ainda tive tempo de passar um rádio para o Cyro ( tinha um carro na minha frente ) e dizer que achava que iam me passar a "pulseira". Chega minha vez, o tal do formulário dizia simplesmente que tentei entrar ilegalmente no Canada a partir dos EEUU. Agora era a policial americana, muito menos simpática, desconfiadíssima até mesmo da minha heterosexualidade pois ao conferir a placa da moto com meu nome e o certificado em nome do Cyro começou a imaginar coisas que nem me atrevo a pensar, a filadaputa. Agora a coisa ficou séria. Travaram os documentos e a moto. Fui encaminhado para uma sala onde tinham uns 30 “foras-da-lei” como eu. De chaparreira e colete de couro não me sentia deslocado no meio daquela babel, era nego de turbante, outro com um quipá, a mulher cheia de véus, 4 chineses quietinhos num canto, uma familia cucaracha falando alto e tomando “esporro” e eu ali quieto, esperando os “comandos” brasileiros saltarem de para-quedas e resgatarem-me a qualquer momento. Como os “comandos” deveriam estar em greve ou em alguma passeata gay, depois de quase 3 horas fui chamado por um policial que aceitou minha explicação. Sai dalí frustrado, tenso mas resolvi tirar uma foto daquele açude metido a besta senão a oposição não acreditaria que estive lá. Parei a moto num estacionamento, tripoide com camara fotográfica às costas vou caminhando em direção a tal de cachoeira procurando um local para fazer o registro fotográfico. Eis que vejo a entrada de um parque, com uma tabuleta ideal para meu propósito. Acontece que tinham 3 mulheres batendo fotos, ainda me ofereci para faze-lo mas a resposta veio malcriada e na bucha : “We don’t need any help!”. Danem-se, pensei enquanto aguardava. Acontece que as mulheres eram cucarahcas pois falavam naquele inconfundível castelhano rápido entremeado de risadas. E nada delas acabarem com as fotos. Começou a se formar uma fila com pessoas que também queriam tirar fotos naquele local. Acabei ficando de saco cheio, armei o tripoid com a camara no meio da rua, coloquei a máquina em self-timer, disparei-o e tomei meu lugar em frente a placa. Ah, pra que, as cucarachas começaram a xingar e eu a responder com saudáveis e didáticos “putaquiparius”.
Elas ainda ensaiaram continuar mas parti para uma pose mais ousada.
Depois dessa elas se retiraram soltando os famosos “maricón”, “hijodeputa” e outras maravilhosas expressões castelhanas. A partir desse momento recuperei-me. Brasil 1 x 0 Argentina (não sei de onde elas eram mas adoro pensar que eram argentinas).
Sai dali e fui para Buffalo parando num Subway. Liguei o notebook, falei com amigos e me lembrei de uma sugestão de meu filho Breno: “-Pai, vai a Cleveland, lá tem o Hall of Fame do Rock and Roll. Gaste nossa herança mas gaste com bom gosto e sabedoria !”. Bingo ! Apesar da hora, do cansaço e das confusões, montei na Camila e falei: “-Cleveland, aqui vou eu !” Afinal o que são 200 milhas pilotando uma motocicleta. Como dizem os mineiros espichando o beiço “-É logo ali, sô”.
06 de junho (Cleveland, OH)
Acordo ainda de mau humor pela discussão que tive na chegada ontem à
noite com um babaca bebado (acho que isso é uma redundancia) que começou a
fazer piadinhas racistas quando soube que eu era brasileiro. Sorte que os
colegas dele interviram e me pediram desculpas além de leva-lo para dentro do
quarto. Bem, pensei, idiotas existem em todos os lugares. Na saida ainda me
despeço do grupo e parto para o “Rock and Roll Hall of Fame and Museum”. Meus
amigos, temos que tirar o chápeu, os gringos não fazem nada pela metade. Só o
prédio e a localização já valem o ingresso.
Não dá para descrever, para voces terem uma idéia fiquei mais de 3 horas lá dentro. Há de tudo, exceto monotonia. Sensacional os filmes da época com discursos de políticos conservadores e pastores falando as maiores barbaridades sobre a música e seus interpretes. Os filmes dos bastidores dos shows de Elvis, Janis Joplin, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e muitos outros. As fotografias são terminantemente proibidas mas consegui burlar a vigilancia em alguns momentos utilizando a famosa frase: “No inglish, no inglish, only cucaracho inglish”. Depois de passar o que passei na imigração americana eu ia perder ponto para um segurança raquítico, além do mais a cara do Bob Dylan :)
Não dá para descrever, para voces terem uma idéia fiquei mais de 3 horas lá dentro. Há de tudo, exceto monotonia. Sensacional os filmes da época com discursos de políticos conservadores e pastores falando as maiores barbaridades sobre a música e seus interpretes. Os filmes dos bastidores dos shows de Elvis, Janis Joplin, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e muitos outros. As fotografias são terminantemente proibidas mas consegui burlar a vigilancia em alguns momentos utilizando a famosa frase: “No inglish, no inglish, only cucaracho inglish”. Depois de passar o que passei na imigração americana eu ia perder ponto para um segurança raquítico, além do mais a cara do Bob Dylan :)
Após sair do Hall of Fame, sentei-me em um restaurante e enquanto matava
um belíssimo sanduba, daqueles com 12 andares, fiquei ampliando o mapa dos EUA
e ví uma cidade que me chamou a atenção: Gettysburg. Foi lá que ocorreu uma
batalha que marcou a Guerra Civil americana, onde o norte interrompeu a
sequencia de vitórias dos confederados e se tornou o ponto de partida para a
vitória. Como a distancia era de 330 milhas resolvi fazer uma parada no meio do
caminho, mais especificamente em Johnstown a 200 milhas de Cleveland. GPS
regulado, sol a pino, braços besuntados de filtro solar, lá fomos nós comer
asfalto da melhor qualidade. Mais uma
etapa tranquila pois já havia feito a reserva do hotel em uma parada no meio do
caminho. Aliás, esta é uma prática que recomendo. A maioria dos restaurantes e
lanchonetes tem wi-fi grátis o que me facilita acessar um site de reserva de
hoteis, escolher um hotel e fazer a reserva online. Coloco o endereço do hotel
no GPS e depois vira brincadeira de criança localiza-lo. Uma informação que
ajuda muito é o ZIP CODE do hotel caso a rua seja desconhecida.
07 de junho
(Johnstown, PA)
Acordei tarde pois o programa de hoje era um tirinho de apenas 120
milhas até Gettysburg. Aproveitei para colocar a correspondencia em dia,
principalmente junto aos credores que, como por milagre, se multiplicam à
medida em que a viagem vai chegando a seu final. Estou pensando sériamente em
pedir asilo político, ou econômico, a uma dessas potencias da America Central.
Quem sabe não consigo emprego num paraíso fiscal apenas para cuidar de
“recursos não contabilizados” pelos nossos patrioticos políticos.
Bem deixemos sonhos e pesadelos de lado e vamos em frente. Após cuidar da correspondencia e perder o horário do café da manhã montei na minha fiel escudeira, vestido à caráter, capacete afivelado, o ritual da partida tem início: recolher o descanso lateral mantendo a Camila equilibrada apenas com uma leve pressão da parte interna da coxa, ignição ligada, chave run off desativada, afogador a 60 graus, um leve toque no botão de start e os 4 cilindros flat acordam. Um pouco descompassados no inicio mas rápidamente em harmonia para produzir a música que embala meus melhores sonhos e nesse momento, mais uma vez, o milagre acontece: volto aos meus 25 anos quando nada me parecia impossível e a felicidade estava logo ali, bem ao alcance da mão de quem ousasse agarra-la. Meus amigos, posso não te-la agarrado pelo tempo que queria mas poucos, muito poucos mesmo, estiveram tão perto de faze-lo. Bem, renovado na idade e com a Camila contornando as curvas com garbo e "donaire" num cenário rural que remetia às Gerais da minha infancia eu seguia para o encontro com a Guerra Civil que marcou profundamente esta grande nação. Próximo a meu destino, já em Gettysburg, avisto um imenso gramado contornando um belo lago e um pequeno restaurante ao lado, passei batido mas a imagem não me saia da cabeça e não tive alternativa a não ser contornar e voltar uns 3 ou 4 km. Valeu a pena, como sempre vale quando “ouvimos” nossa intuição. O restaurante era gerido por uma família simpatissíssima e a comida maravilhosa além de barata. Para completar um visual que fui obrigado a registrar na minha já desconjuntada Sony.
Termino a sessão de fotos e parto para o hotel para um descanso não tão merecido pois a tarefa de hoje foi moleza. Cheguei ao hotel com os mesmos 25 anos que sai de Johnstown. Muito bom isso.
Bem deixemos sonhos e pesadelos de lado e vamos em frente. Após cuidar da correspondencia e perder o horário do café da manhã montei na minha fiel escudeira, vestido à caráter, capacete afivelado, o ritual da partida tem início: recolher o descanso lateral mantendo a Camila equilibrada apenas com uma leve pressão da parte interna da coxa, ignição ligada, chave run off desativada, afogador a 60 graus, um leve toque no botão de start e os 4 cilindros flat acordam. Um pouco descompassados no inicio mas rápidamente em harmonia para produzir a música que embala meus melhores sonhos e nesse momento, mais uma vez, o milagre acontece: volto aos meus 25 anos quando nada me parecia impossível e a felicidade estava logo ali, bem ao alcance da mão de quem ousasse agarra-la. Meus amigos, posso não te-la agarrado pelo tempo que queria mas poucos, muito poucos mesmo, estiveram tão perto de faze-lo. Bem, renovado na idade e com a Camila contornando as curvas com garbo e "donaire" num cenário rural que remetia às Gerais da minha infancia eu seguia para o encontro com a Guerra Civil que marcou profundamente esta grande nação. Próximo a meu destino, já em Gettysburg, avisto um imenso gramado contornando um belo lago e um pequeno restaurante ao lado, passei batido mas a imagem não me saia da cabeça e não tive alternativa a não ser contornar e voltar uns 3 ou 4 km. Valeu a pena, como sempre vale quando “ouvimos” nossa intuição. O restaurante era gerido por uma família simpatissíssima e a comida maravilhosa além de barata. Para completar um visual que fui obrigado a registrar na minha já desconjuntada Sony.
Termino a sessão de fotos e parto para o hotel para um descanso não tão merecido pois a tarefa de hoje foi moleza. Cheguei ao hotel com os mesmos 25 anos que sai de Johnstown. Muito bom isso.
08 de junho (Gettysburg, MD)
Resolvo tirar um dia de folga pois estou adiantado na minha programação.
Hoje é sexta-feira e tenho de estar em Front Royal apenas no domingo para
encontrar o Cyro e fazermos a Skyline Drive de volta para Charlottesville.
Embora eu seja leigo também nesse assunto: arquitetura, a cidade de Gettysburg
tem um estilo que lembra o inicio do século passado.
Muito limpa e hospitaleira, acolhe turistas de todas as partes que vem conhecer de perto, utilizando os mais estranhos meios de transporte, locais onde ocorreram batalhas da Guerra Civil bem como monumentos, cemitérios e museus. Resolvi fazer um tour mas, presepeiro como voces sabem que sou, escolhi um em que voce pilota aquele negócio que parece um patinete sem cauda. São duas rodas apenas e uma barra. Voce inclina o corpo para a frente e a goiaba anda para a frente. Inclina o corpo para trás e ele anda para trás, inclina para a direita resulta em curva para a direita, etc e tal. Tive que passar por um rápido treinamento e o segredo da encrenca é o tal de efeito giroscópico, muito familiar para nós motociclistas. O brinquedo é silencioso, fácil de pilotar e sua bateria tem uma autonomia de 30 milhas.
Fiz o circuito de teste e após aprovado com louvor saio pelas ruas de Gettysburg louco para fazer algumas lambanças mas o olhar da guia (sim eu tinha uma guia só para mim pois não apareceu ninguém para montar um grupo. Medo de mim ou do sol, o que dá no mesmo, hehehe). Algumas fotos desse dia em que a moto ficou descansando debaixo da marquise da recepção do hotel. Para a Camila o que há de melhor, ela merece.
É sempre a mesma coisa, o Gal. Custer querendo me culpar pelas enormes perdas em nossas fileiras. Falei-lhe poucas e boas...

Aqui, pedindo exoneração do cargo de forma irrevogável e irretratável, a exemplo do Mercadante.
Muito limpa e hospitaleira, acolhe turistas de todas as partes que vem conhecer de perto, utilizando os mais estranhos meios de transporte, locais onde ocorreram batalhas da Guerra Civil bem como monumentos, cemitérios e museus. Resolvi fazer um tour mas, presepeiro como voces sabem que sou, escolhi um em que voce pilota aquele negócio que parece um patinete sem cauda. São duas rodas apenas e uma barra. Voce inclina o corpo para a frente e a goiaba anda para a frente. Inclina o corpo para trás e ele anda para trás, inclina para a direita resulta em curva para a direita, etc e tal. Tive que passar por um rápido treinamento e o segredo da encrenca é o tal de efeito giroscópico, muito familiar para nós motociclistas. O brinquedo é silencioso, fácil de pilotar e sua bateria tem uma autonomia de 30 milhas.
Fiz o circuito de teste e após aprovado com louvor saio pelas ruas de Gettysburg louco para fazer algumas lambanças mas o olhar da guia (sim eu tinha uma guia só para mim pois não apareceu ninguém para montar um grupo. Medo de mim ou do sol, o que dá no mesmo, hehehe). Algumas fotos desse dia em que a moto ficou descansando debaixo da marquise da recepção do hotel. Para a Camila o que há de melhor, ela merece.
É sempre a mesma coisa, o Gal. Custer querendo me culpar pelas enormes perdas em nossas fileiras. Falei-lhe poucas e boas...
Aqui, pedindo exoneração do cargo de forma irrevogável e irretratável, a exemplo do Mercadante.
09 de junho ( Gettysburg, MD)
Acordei invocado e lembrei-me de Napoleão: "-L'audace, toujours l'audace !". Foi ai que resolvi entrar para valer na Guerra Civil americana, afinal estava tendo uma chance única de conseguir um posto mais honroso do que o de soldado de 1a. classe dos meus tempos na gloriosa Força Aérea Brasileira. Onde também, diga-se, tive o supremo privilégio de varrer o avião que trouxe Yuri Gagarin ao Brasil em 1962. Era meu maior feito militar até então e aquilo apenas não me satisfazia. Mal tomei o café, fui até o quarto e dei uma "beiçada" no inseparável Jack Daniels para firmar o caráter. Tentei montar na Camila como se fora um cow-boy mas quase que me estabaquei e preferi deixar aquela parte para outra ocasião. De qualquer forma sai com cara de invocado e procurando uma oportunidade. Ao dobrar uma esquina eis que me deparo com um acampamento dos rebeldes, tentei convence-los a se entregarem.
Naturalmente oferecendo uma generosa e vitalícia "bolsa rendição" isenta de Imposto de Renda, fora os atrasados, quinquenios e jetons (não sei que bosta é essa mas deve ser bom). O sacana do general rebelde não aceitou. Não tive alternativa a não ser passa-lo pelo fio de minha espada.
Os yankes, que a tudo assistiam através de um tal de Reality Show, ficaram entusiasmados com meu desempenho e ofereceram-me o posto de Coronel no Décimo de Cavalaria, com toda a pompa e vantagens inerentes ao cargo. Fiz-me fotografar devidamente paramentado e voltei rápidamente para contar as novidades para a Camila, inclusive sobre a ração gratuita a que ela teria direito.
Aqui um parenteses, eu e a Camila nos entendemos maravilhosamente e sempre através de telepatia mas dessa vez, a primeira e única, ela falou. Fecha parenteses. "- Olha aqui seu velho maluco, joga fora aquele Jack Daniels antes que voce se atreva a me chamar de Rocinante, do contrário voce vai comprar um belíssimo lote vizinho ao do General Custer.". É, uma promissora carreira acabara de ser abruptamente encerrada. Coisas da vida, coisas da vida...
10 de junho (Gettysburg, MD
Já estava montando na moto para dar a partida, após besuntar-me de bloqueador solar, quando me lembrei da roupa de chuva que comprei em Buffalo. Minha previsão estava se confirmando: logo que eu comprasse a roupa a chuva fugiria de mim como o cramunhão da cruz. Refleti por alguns segundos e tomei uma decisão drástica: "Eu inauguro essa roupa hoje ou não me chamo Hélio !". Pedi a chave do quarto de volta e com a roupa embrulhada debaixo do braço fui direto para o banheiro. "Vai ser no chuveiro mesmo", pensei. Antes de vestir a roupa de chuva (e depois de tirar a roupa de não chuva, naturalmente) lembrei-me de que estava cheio de bloqueador solar nos braços e no rosto. Achei melhor tomar um banho. Após o banho, vesti a roupa normal e a de chuva por cima, sem esquecer de colocar o capacete com a viseira baixada. Só não coloquei a bota em respeito à brancura da banheira. Mas o treco funcionou e sai dali feliz, a inauguração fora um sucesso !
Já estava montando na moto para dar a partida, após besuntar-me de bloqueador solar, quando me lembrei da roupa de chuva que comprei em Buffalo. Minha previsão estava se confirmando: logo que eu comprasse a roupa a chuva fugiria de mim como o cramunhão da cruz. Refleti por alguns segundos e tomei uma decisão drástica: "Eu inauguro essa roupa hoje ou não me chamo Hélio !". Pedi a chave do quarto de volta e com a roupa embrulhada debaixo do braço fui direto para o banheiro. "Vai ser no chuveiro mesmo", pensei. Antes de vestir a roupa de chuva (e depois de tirar a roupa de não chuva, naturalmente) lembrei-me de que estava cheio de bloqueador solar nos braços e no rosto. Achei melhor tomar um banho. Após o banho, vesti a roupa normal e a de chuva por cima, sem esquecer de colocar o capacete com a viseira baixada. Só não coloquei a bota em respeito à brancura da banheira. Mas o treco funcionou e sai dali feliz, a inauguração fora um sucesso !
Volto a entregar a chave do quarto, sob os olhares desconfiados do pessoal da recepção, monto na Camila e tomo o rumo de Front Royal onde, após um tirinho de 110 milhas, vou me encontrar com o Cyro, que já resolveu o problema da embreagem da moto, para voltarmos juntos amanhã para Charlottesville.
11 de junho (Front Royal, VA)
O Cyro ontem chegou logo depois de mim a Front Royal. Jantamos num restaurante em frente ao hotel e ficamos observando o movimento de motos. No nosso hotel chegou um grupo com 4 motos, uma delas, a De Luxe, pilotada por uma mulher. Aliás é uma coisa que chama a atenção, a quantidade de mulheres, de todas as idades, que pilotam motos, especialmente Harley Davidson.
Hoje acordamos e tomamos café sem pressa nos preparando para fazer a Skyline Drive no sentido Norte Sul em direção a Charlottesville, o final desta nossa etapa.
Hoje acordamos e tomamos café sem pressa nos preparando para fazer a Skyline Drive no sentido Norte Sul em direção a Charlottesville, o final desta nossa etapa.
A Skyline Drive, com cerca de 85 milhas, é uma continuação da Blue Ridge Parkway com suas 475 milhas, como percorremos as duas nos dois sentidos somamos quase 1.200 milhas só nestas estradas sensacionais no que diz respeito a asfalto, curvas e ao eco-sistema em que estão inseridas como se estivessem colocadas ali pela própria natureza.
Não dá para cansar, sempre que tiver oportunidade a Blue Ridge estará nos meus planos: pela sua energia, pela beleza e pela paz mas, em especial, por sentir tão próxima a presença do Criador.
Obrigado a todos que se deram ao do trabalho de ler até aqui, relevem as brincadeiras, os erros de revisão e lembrem-se de, pelo menos, olhar para o horizonte. Vale a pena.
Fora as egrégoras !