PARTINDO PARA NOVOS EMBATES
Winter Garden (FL) - Kingsland (GA)
2 junho - 3 junho
Winter Garden (FL) - Kingsland (GA)
2 junho - 3 junho
A hora da partida é sempre complicada, para
disfarçar a emoção a gente procura se ocupar com alguma coisa ou inventa algo,
se não tiver nada para fazer. Como a Helô já estava devidamente abastecida,
bagagem totalmente ancorada, para-brisas limpo pela enésima vez restou-me
verificar os pneus, o que foi uma sorte pois o pneu traseiro já estava
"quadrado" e a banda de rodagem prestes a atingir o TWI.
Afinal eu tinha rodado cerca de 18.000 Km com eles em 2013 antes do período de
hibernação da Helô. Trocaria os dois logo que possível, pensei.
Assim foi que, após despedidas e mil recomendações carinhosas de meus
sobrinhos, montei na Helô, liguei-a e partimos. Eu, com a emoção à flor
da pele e a Helô, com os pneus carecas. Trata-se de uma
combinação perigosíssima: a moto "rebolando" tal qual passista mirim
+ olhos embaçados do velho motoqueiro. Para evitar problemas, parada para
retomar fôlego logo após a saída do belo condomínio onde reside meu sobrinho
Rodrigo. Respirar fundo, caminhar um pouco, aproveitar para fazer algumas
fotos e deixar as emoções para trás semeando o caminho.
Depois de algum tempo, com parte da compostura de volta, a primeira e mais séria decisão
deve ser tomada: escolher
uma direção. O sul foi logo descartado pois, estando na Florida, se
desço um pouco mais acabo numa ilha paradisíaca, governada por um bom velhinho
barbudo, com tênis Nike e agasalho Adidas. O grande problema é que pessoas
muito mais merecedoras do paraiso do que eu, ainda não conseguiram lá se
estabelecer definitivamente. Não seria justo eu chegar na frente deles para me
esbaldar no canavial participando do corte de cana (aqui prá nos, sonho com
isso todas as noites em que bebo o famoso vinho Telephone). Além do mais, o
fluxo do tráfego marítimo inexplicavelmente é apenas de lá para cá. Estranho
isso.... Bem, para evitar problemas com a moçada que mora na Vieira Souto e na
Avenue Foch em Paris, resolvi ir para o Norte mesmo. Vou deixar o paraíso para
mais tarde. Tratemos dos pneus antes de mais nada, afinal não sei para onde vou
e por quanto tempo estarei na estrada assim a prudência recomenda a troca dos
dois.
A escolha óbvia foi
Daytona, naquele complexo que fica na interseção da 95 Norte com a 1 em Ormond
Beach, afinal lá estão localizadas duas grandes lojas, uma da Harley Davidson e
outra da JP Cycle. Na HD 500
dólares os dois pneus e na JP Cycle 270 dólares. Exatamente os mesmos Dunlop.
Como a JP Cycle não faz a troca de pneus, fui na HD ver quando eles cobram e levei o maior susto 92 dólares por
hora e um tempo estimado de 2 horas e meia (comprando lá o pneu ou não).
Como não daria para sair com dois pneus em volta do pescoço morri em 230
dólares na troca e 270 nos pneus. Pelas minhas contas ficarei sem almoçar
durante 3 semanas, como preciso perder peso nenhum problema (isso até minha
cardiologista tomar conhecimento da iniciativa). Para evitar novas surpresas,
resolvi comprar as pastilhas de freio na JP Cycle pois se tiver que trocar no
meio do caminho eu mesmo faço o serviço e o preço é muito melhor do que o da
HD. Tenho um kit pobreza com ferramentas variadas, óculos com lente vencida,
recipiente para água com a boca larga (o que me permite roubar gelo nas
maquinas de refrigerantes nos postos de gasolina), protetor solar vencido (do "verão da lata"), uma extensão sem tomadas nas duas pontas pois fios desencapados são mais
fáceis de introduzir em tomadas redondas, chatas e até nas brasileiras, algumas
notas de cruzeiro velho (impressiona incautos) e outros zilhões de itens que me
conferem enorme flexibilidade porém o mais importante ainda é o velho charme
dos Rodrigues Silva. Sorry periferia......
Enquanto
estava na JP Cycle comprando os pneus vi um catalogo para motos “vintage” em
cima do balcão. Pensei logo no meu sobrinho Mario Coutinho e pedi
um exemplar para o balconista que é este fotografado.
Eles distribuem direto
mas este vai acompanhar-me durante toda a viagem, fazendo peso na moto, depois
vou levá-lo na bagagem com enorme sacrifício para entregá-lo, reunindo minhas
ultimas forcas, ao sobrinho. Valorizei assim para não ter a tentação de
arrancar paginas (para fins não muito nobres) nas situações de emergência que
vierem a ocorrer no meio da viagem.
Após a
troca dos pneus a Helô parecia outra moto, um verdadeiro espetáculo, apesar do
vento de través foi fácil manter as 80 milhas com a bagagem meio bamba e as
enormes carretas formando um turbilhão quando ultrapassadas. O pior é que, em
alguns casos, você tem que chegar quase a 90 milhas para ultrapassá-las, com o
risco de ganhar um ticket que vai fazer uma enorme falta nas combalidas finanças. Tudo isto com muito cuidado pois os primeiros
50 Km com pneus novos requerem muita atenção até que a camada de cera protetora
que os recobre seja “lixada”. Foi assim, pisando em ovos e curtindo o novo equilíbrio
da Helô, que entramos na Georgia e chegamos em Kingsland onde 2 carros de bombeiros me aguardavam no estacionamento do hotel. Depois vim saber que foi uma senhora que passou mal e teve que ser conduzida a um hospital. Até hoje não entendi o lance dos carros de bombeiros. Eles iriam me perseguir por toda a viagem.
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