"GOING-TO-THE-SUN ROAD", UMA ESTRADA
FANTÁSTICA !
Glacier National Park (MT) - Great Falls (MT) - 16 julho
2013
Confesso que a primeira vez em que li esse nome no ano
passado, grafado dessa forma, o danado jamais me saiu da cabeça. Quando recebi a já famosa lista das 15
melhores estradas para motos, que o Carlos Schaeffer me enviou, fui direto para o Mr. Gúgol ler um pouco mais
sobre cada uma delas. De cara descartei umas duas pois não estavam dentro do
que eu procurava e outras por estarem muito distantes da região onde eu estava. Mal sabia eu que a cada uma que acrescentava à lista o número 15 me acenava cada vez mais entusiasmado não me deixando alternativa a não ser completa-las, mesmo as que eu já tinha feito em anos anteriores. A partir daí, montei meu roteiro mirando a "Going-to-the-Sun"
incluindo todas as que me permitirão o "Royal Street Flash". Foi assim que, juntos, faturamos 8 delas, até o
momento. Se juntarmos às outras 3 pelas quais já tínhamos passado, o saldo está
excelente. Tudo isso para falarmos na espetacular "Going-to-the-Sun".
Eu estava em Kalispell (MT) a 26 milhas do Glacier
National Park. A região ferve de motociclistas, turistas e jogadores pois aqui
é território indígena, me parece dos "blackfeet", e eles aprenderam
direitinho como ganhar dinheiro de quem adora perde-lo. Os jogadores vão jogar, os turistas turistar
e os motociclistas, como de hábito, atarrachar a cara de mau que esconde o
coxinha que mora no coração de cada um de nós.
Cara de mau atarrachada, monto na Helô e partimos para
o Glacier National Park. O bichão fica a noroeste de Montana e tem cerca de
4.000 Km2. Uma pequena parte faz divisa com o Canada (British Columbia e
Alberta). As duas cadeias de montanhas que o compõem (no lado do USA) fazem parte das Montanhas Rochosas e têem
mais de 150 picos acima dos 8.000 pés. O parque tem um ecossistema praticamente
virgem e considerado um dos maiores do USA.
Após deixar meus 12 dólares, com direito a uma semana de idas e vindas,
vou direto ao Visitors Center para fazer a foto junto à placa e absorver um
pouco daquele clima de "happening"
tão comum nesses locais da gringolandia.
Rodo mais umas 2 ou 3 milhas e encontro meu objetivo, a "Sun" (comecei a chama-la com a intimidade de quem sonhou com ela por muitas luas). Como cartão de visita a primeira visão imponente: o Lago McDonald. Com mais de 10 milhas de extensão acompanha a estrada tornando difícil pilotar sem olhar as montanhas refletidas nas suas águas mansas. Melhor parar, curtir, fotografar, orar e agradecer aquele momento mágico.
Rodo mais umas 2 ou 3 milhas e encontro meu objetivo, a "Sun" (comecei a chama-la com a intimidade de quem sonhou com ela por muitas luas). Como cartão de visita a primeira visão imponente: o Lago McDonald. Com mais de 10 milhas de extensão acompanha a estrada tornando difícil pilotar sem olhar as montanhas refletidas nas suas águas mansas. Melhor parar, curtir, fotografar, orar e agradecer aquele momento mágico.
Após essas 10 milhas
outras surpresas nos aguardavam. Montanhas, muitas com glaciares nos
seus picos, observando se estávamos fazendo o contra-esterço corretamente nas
curvas, se a redução de marchas está adequada àquela curva específica, se o olhar
no ponto de tangência aconteceu naturalmente e, entre si, definiam uma nota
para nossa pilotagem ! Olha, não posso
jurar que elas faziam isso, embora tenha quase certeza que sim, de minha parte
tratava de fazer meu trabalho para evitar ser chamado a atenção. Acho que me
saí bem....Acho !
A estrada corta
o parque no sentido "Est to West", cruza o Continental Divide (seja lá o que isso
signifique, pelo menos não paguei
pedágio) quando atravessamos o Logan Pass a 7.000 pés de altitude.
Mas para atravessar essa goiaba, você pega uma estrada linda e que exige muito cuidado. Trata-se de um feito de engenharia impressionante para os dias de hoje, imaginem na década de 30 (do século passado) quando foi construída escavada na rocha ! As muretas de proteção são baixinhas (talvez uns 50 cm de altura), além disso existem vários pontos em que o degelo forma uma cascata na lateral da pista inundando-a. Em outros pontos temos neve nas laterais da pista, isso sem contar que os despenhadeiros são de meter medo a quem tem cagaço de altura como é o meu caso.
Mas para atravessar essa goiaba, você pega uma estrada linda e que exige muito cuidado. Trata-se de um feito de engenharia impressionante para os dias de hoje, imaginem na década de 30 (do século passado) quando foi construída escavada na rocha ! As muretas de proteção são baixinhas (talvez uns 50 cm de altura), além disso existem vários pontos em que o degelo forma uma cascata na lateral da pista inundando-a. Em outros pontos temos neve nas laterais da pista, isso sem contar que os despenhadeiros são de meter medo a quem tem cagaço de altura como é o meu caso.
Mas não adianta, você tem medo, sabe dos riscos mas
vai lá e encara novamente. É mais ou menos como dizia meu pai quando eu
aparecia com um carro caindo aos pedaços: "-Homem quando cisma de comprar
carro velho e casar com puta não adianta dar conselho!".................É,
acho que hoje ele acrescentaria: "e andar de moto depois de velho!".
SERIA APENAS UM DESLOCAMENTO MAS QUASE VIRA UM
BANQUETE...
Great Falls (MT) - Gardiner (MT) - 18 julho 2014
Sai de Great Falls, onde fiquei um dia descansando
para o desafio de amanhã, e fui para Gardiner onde consegui uma cama num
hostel. Quase todos os hoteis da região estão lotados e os poucos que tinham
vaga cobravam 300 dólares a diária. Por esse preço durmo no Cafe Photo com 2
"primas" me embalando, com todo o respeito, naturalmente.
Como eu tinha tempo de sobra pois queria chegar no tal
do hostel só na hora de dormir, fui mais devagar do que de hábito.
Chegando próximo a Gardiner, cerca de 40 ou 50 milhas, o rio Yellowstone corre paralelo à estrada que, por sua vez, corta a Gallatin National Forest formando paisagens lindas e que mereciam ser curtidas. O tempo sobrava e lá ia eu me deliciando. O problema é que tem coisas que só acontecem comigo e com o Botafogo. Na última parada que fiz, existia uma área bem larga para colocar a Helô em segurança, descer com calma, tirar o capacete e até mesmo as luvas, beber um gole d'água já meio morna, escolher os ângulos adequados e fazer as fotos de praxe. Quanto terminei a sessão de fotos, vi que havia uma espécie de rebaixo um pouco mais distante da estrada e fui até lá na espectativa de ser um riacho. Quando cheguei perto havia apenas um filete de água e um monturo que, de início, não entendi o que era, cheguei mais perto e tomei um susto, era a carcaça de um animal (não muito pequeno) e partes de um outro recém abatido. Meus amigos, os cabelos da sola do pé ( e de outros locais) arrepiaram. Interrompi a refeição de alguém e isso é uma ofensa muito grave. Bati uma foto (não tive coragem de fazer outras) e sai numa desabalada carreira, nem sei como prendi câmera, capacete e luvas na bagagem ! Parei mais na frente, na entrada de um rancho, arrumei a bagagem e fui direto para o hostel. Melhor ficar sem fazer nada do que virar comida de urso.
Passando por Shields River Valley deparei-me com
essa estátua à beira da estrada. Trata-se do "Thunder Jack", uma
escultura dedicada a todos aqueles que desbravaram e viveram nas
montanhas da região. Aproveitei e auto-nomeei-me "Thunder
Hélio" o que gostaria de desbravar e viver nas estradas. Um dia eu chego
lá.
Chegando próximo a Gardiner, cerca de 40 ou 50 milhas, o rio Yellowstone corre paralelo à estrada que, por sua vez, corta a Gallatin National Forest formando paisagens lindas e que mereciam ser curtidas. O tempo sobrava e lá ia eu me deliciando. O problema é que tem coisas que só acontecem comigo e com o Botafogo. Na última parada que fiz, existia uma área bem larga para colocar a Helô em segurança, descer com calma, tirar o capacete e até mesmo as luvas, beber um gole d'água já meio morna, escolher os ângulos adequados e fazer as fotos de praxe. Quanto terminei a sessão de fotos, vi que havia uma espécie de rebaixo um pouco mais distante da estrada e fui até lá na espectativa de ser um riacho. Quando cheguei perto havia apenas um filete de água e um monturo que, de início, não entendi o que era, cheguei mais perto e tomei um susto, era a carcaça de um animal (não muito pequeno) e partes de um outro recém abatido. Meus amigos, os cabelos da sola do pé ( e de outros locais) arrepiaram. Interrompi a refeição de alguém e isso é uma ofensa muito grave. Bati uma foto (não tive coragem de fazer outras) e sai numa desabalada carreira, nem sei como prendi câmera, capacete e luvas na bagagem ! Parei mais na frente, na entrada de um rancho, arrumei a bagagem e fui direto para o hostel. Melhor ficar sem fazer nada do que virar comida de urso.
Até que o hostel era maneiro, o pessoal da recepção
super-simpático, roupa de cama e toalhas limpas e ainda me serviram um drink
como cortesia (e depois do susto eu precisava mesmo de "firmar o
caráter") O quarto tinha duas beliches. Apenas uma cama estava ocupada por
um baixinho com a cara toda arranhada. Depois vim saber que a mulher encheu-lhe
de porrada, no que ela deve ter toda a razão. Baixinho é folgado prá
cacete.
Para fazer hora fui até o centro da cidade a cerca de
10 milhas. Uma deliciosa estação de inverno mas que no verão também tem um
movimento muito grande, afinal é a entrada Norte para o Yellowstone National
Park destino de turistas e motociclistas de todas as partes. Aproveitei para
saborear uma cerveja geladinha e descobri minha xará, uma cerveja chamada
"Helio".....coisas de botafoguense e motociclista....
Resolvi abastecer a moto e de repente vejo um
grupo com um senhor de meia idade e umas 5 crianças, uma delas gritou para o
adulto: "-Olha, brasileiro !". O cara veio falar comigo e disse que a
mulher dele era brasileira e o garoto, sobrinho dela, também. Batemos um papo
rápido e nos despedimos mas notei que o garoto (o nome era Pedro, e devia ter
uns 8 a 9 anos) era introvertido e ficava de olho comprido na moto. Eles foram
embora e eu continuei abastecendo, quando terminei, liguei a moto e saí, uns 2
quarteirões à frente vejo o grupo na beira da calçada, eu vinha no embalo mas
alguma coisa me fez dar uma reduzida, ficar em pé no estribo, bater a mão
e gritar para ele: "-Fala Pedro !". Ví os olhos do moleque brilharem,
afinal um motociclista (não importa que seja um velho encarquilhado), numa
Harley Davidson reconheceu-o no meio de um monte de gringos ! Hoje,
durante a viagem pela Beartooth vinha pensando, a gente discute soluções
mirabolantes para o mundo e não consegue fazer porra nenhuma, por outro lado,
uma ação pequena dessas pode dar uma alegria, mesmo que momentânea, para uma
criança que está longe de casa. O engraçado é que parei para tomar uma cerveja
e em pouco eles chegaram, a esposa e o sogro do cara também, ficamos batendo um
papo muito gostoso, trocamos e-mails aumentando o circulo de energia positiva
que envolve esta viagem. Muito bom isso.
"BEARTOOTH ROUTE", UMA EXPERIÊNCIA QUE
JAMAIS SAIRÁ DA MEMÓRIA.
Gardiner (MT) - Hardin (MT) - 19 julho 2014
Saí hoje de manhã com destino a Cooke, onde tem início
a famosa "Beartooth Route". Como já tenho alguma intimidade com o
GPS, depois das aulas de meu amigo Netto "McGiver", programei o
danado para Cooke e saí em campo. Estranhei um pouco ele mandar-me para
esquerda (o caminho por onde eu vim). Parei, refiz a programação e ele
insistiu, só faltando me chamar de idiota. Obedeci e lá fui eu,cada vez mais desconfiado mas com
preguiça de parar e abrir o "Road Atlas". O fato é que andei umas 40
milhas e resolvi parar. Conferí no Road Atlas e lá estava a 212, que liga
Gardiner a Cooke a menos de 10 milhas do hostel onde eu estava hospedado. Tive
que voltar as 40 milhas, agora sentando o sarrafo (80 a 90 milhas) e xingando o
GPS de todas as formas até me lembrar que eu coloquei-o na modalidade
"miserabilidade", aquela que evita estradas pedagiadas e a 212 sai de
DENTRO do Yellowstone National Park, cujo ingresso custa 20 obamas. Mas tudo
vale a pena quando a moto é uma HD e você tem que passar por onde tenho
passado. A passagem pelo parque de Yellowstone é sempre agradável e aproveitei
para fazer algumas fotos.
O movimento de motos indo para Cooke era intenso. Grupos de mais de 10 motos eram uma constante. Cheguei em Cooke com a cidade tomada pelas motos. O que você vê de "braçada" nesse meio não é brincadeira, principalmente nas manobras em postos de gasolina. Tem gente muito boa mas tem cada figura !
O movimento de motos indo para Cooke era intenso. Grupos de mais de 10 motos eram uma constante. Cheguei em Cooke com a cidade tomada pelas motos. O que você vê de "braçada" nesse meio não é brincadeira, principalmente nas manobras em postos de gasolina. Tem gente muito boa mas tem cada figura !
Voltando a "Beartooth Route", ela é uma
seção da US-212, com cerca de 75 milhas, ligando Cooke a Red Lodge, ambos em
Montana. Achei que não seria nada demais já que ano passado estive em Cooke
para pegar a Chief Joseph Skyway, e para isto achei que tinha passado pelo
início da Beartooth mas me enganei, ela começa logo depois da entrada da Chief
Joseph.
No começo, uma estrada que dá para manter 60 a 70 milhas sem problemas, curvas largas, com boa visibilidade, um visual muito bonito se esgueirando entre as arvores e as rochas das florestas de Custer e Shoshone mas nada que se comparasse ao que viria depois. Interessante é que a estrada começa em Montana, entra no Wyoming terminando, novamente, em Montana.
De repente, ela sai dessa região densamente arborizada e você se depara com as montanhas Beartooth, que fazem parte das Rochosas. É uma visão imponente e impressionante que nos remete à nossa exata dimensão. A estrada começa a subir embora a gente, olhando para cima, não consiga imaginar como ela vai chegar ao topo daquelas montanhas.
A estrada é de uma pista apenas, estreita, em muitos pontos sem guard-rail e sobe zigue-zagueando aproveitando a topografia do terreno, onde curvas de 180 graus são uma constante. A pilotagem tem que ser muito cuidadosa, principalmente quando você está do lado externo onde as incríveis paisagens podem roubar sua atenção.
A melhor coisa a fazer é parar e curtir os absurdos
lagos formados pelo degelo no fundo de um vale inacessível. Ou então, quando
você estiver no Beartooth Pass, a 11 mil pés de altitude, olhar de cima os
picos que formam a cadeia Beartooth com suas geleiras eternas.
Eu não percorria meia milha sem me deparar com um cenário que, de alguma forma, mexia com minhas emoções. Muitos dirão que é a velhice (pode ser, realmente), outros que é exagero mas eu e a Helô sabemos muito bem que o azul do céu e a sensação de proximidade com o Criador fizeram de mim, por um momento, um ser humano melhor. Foi um dos mais emocionantes roteiros que eu e a Helô fizemos.
No começo, uma estrada que dá para manter 60 a 70 milhas sem problemas, curvas largas, com boa visibilidade, um visual muito bonito se esgueirando entre as arvores e as rochas das florestas de Custer e Shoshone mas nada que se comparasse ao que viria depois. Interessante é que a estrada começa em Montana, entra no Wyoming terminando, novamente, em Montana.
De repente, ela sai dessa região densamente arborizada e você se depara com as montanhas Beartooth, que fazem parte das Rochosas. É uma visão imponente e impressionante que nos remete à nossa exata dimensão. A estrada começa a subir embora a gente, olhando para cima, não consiga imaginar como ela vai chegar ao topo daquelas montanhas.
A estrada é de uma pista apenas, estreita, em muitos pontos sem guard-rail e sobe zigue-zagueando aproveitando a topografia do terreno, onde curvas de 180 graus são uma constante. A pilotagem tem que ser muito cuidadosa, principalmente quando você está do lado externo onde as incríveis paisagens podem roubar sua atenção.
Eu não percorria meia milha sem me deparar com um cenário que, de alguma forma, mexia com minhas emoções. Muitos dirão que é a velhice (pode ser, realmente), outros que é exagero mas eu e a Helô sabemos muito bem que o azul do céu e a sensação de proximidade com o Criador fizeram de mim, por um momento, um ser humano melhor. Foi um dos mais emocionantes roteiros que eu e a Helô fizemos.
Uma coisa que estranhei foi a quantidade
impressionante de motos. "Bondes" enormes, "free-lance"
mesmo só eu e um ou outro maluco. Fiquei encucado com aquilo mas quando cheguei
a Red Lodge tudo se explicou. A cidade coalhada de motos era simplesmente o 20th Annual Beartooth Rally. Por isso os
hotéis lotados e os preços nas alturas mas a cidade estava que era uma festa
só.
Claro
que aproveitei para dar minha circulada após trancar a Helô...Dia maravilhoso !
Nenhum comentário:
Postar um comentário