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domingo, 18 de janeiro de 2015

AS 15 MELHORES ROTAS DOS USA - 11

"GOING-TO-THE-SUN ROAD", UMA ESTRADA FANTÁSTICA !
Glacier National Park (MT) - Great Falls (MT) - 16 julho 2013

Confesso que a primeira vez em que li esse nome no ano passado, grafado dessa forma, o danado jamais me saiu da cabeça.  Quando recebi a já famosa lista das 15 melhores estradas para motos, que o Carlos Schaeffer me enviou,  fui direto para o Mr. Gúgol ler um pouco mais sobre cada uma delas. De cara descartei umas duas pois não estavam dentro do que eu procurava e outras por estarem muito distantes da região onde eu estava. Mal sabia eu que a cada uma que acrescentava à lista o número 15 me acenava cada vez mais entusiasmado não me deixando alternativa a não ser completa-las, mesmo as que eu já tinha feito em anos anteriores. A partir daí, montei meu roteiro mirando a "Going-to-the-Sun" incluindo todas as que me permitirão o  "Royal Street Flash". Foi assim que, juntos, faturamos 8 delas, até o momento. Se juntarmos às outras 3 pelas quais já tínhamos passado, o saldo está excelente. Tudo isso para falarmos na espetacular "Going-to-the-Sun".

Eu estava em Kalispell (MT) a 26 milhas do Glacier National Park. A região ferve de motociclistas, turistas e jogadores pois aqui é território indígena, me parece dos "blackfeet", e eles aprenderam direitinho como ganhar dinheiro de quem adora perde-lo.  Os jogadores vão jogar, os turistas turistar e os motociclistas, como de hábito, atarrachar a cara de mau que esconde o coxinha que mora no coração de cada um de nós.
Cara de mau atarrachada, monto na Helô e partimos para o Glacier National Park. O bichão fica a noroeste de Montana e tem cerca de 4.000 Km2. Uma pequena parte faz divisa com o Canada (British Columbia e Alberta). As duas cadeias de montanhas que o compõem (no lado do USA)  fazem parte das Montanhas Rochosas e têem mais de 150 picos acima dos 8.000 pés. O parque tem um ecossistema praticamente virgem e considerado um dos maiores do USA.
Após deixar meus 12 dólares,  com direito a uma semana de idas e vindas, vou direto ao Visitors Center para fazer a foto junto à placa e absorver um pouco daquele clima de "happening"  tão comum nesses locais da gringolandia.  






Rodo mais umas 2 ou 3 milhas e encontro meu objetivo, a "Sun" (comecei a chama-la com a intimidade de quem sonhou com ela por muitas luas). Como cartão de visita a primeira visão imponente: o Lago McDonald. Com mais de 10 milhas de extensão acompanha a estrada tornando difícil pilotar sem olhar as montanhas refletidas nas suas águas mansas.  Melhor parar, curtir, fotografar, orar e agradecer aquele momento mágico.





Após essas 10 milhas  outras surpresas nos aguardavam. Montanhas, muitas com glaciares nos seus picos, observando se estávamos fazendo o contra-esterço corretamente nas curvas, se a redução de marchas está adequada àquela curva específica, se o olhar no ponto de tangência aconteceu naturalmente e, entre si, definiam uma nota para nossa pilotagem !  Olha, não posso jurar que elas faziam isso, embora tenha quase certeza que sim, de minha parte tratava de fazer meu trabalho para evitar ser chamado a atenção. Acho que me saí bem....Acho !












 A estrada corta o parque no sentido  "Est to West", cruza o Continental Divide (seja lá o que isso signifique, pelo menos não paguei pedágio) quando atravessamos o Logan Pass a 7.000 pés de altitude. 





 Mas para atravessar essa goiaba, você pega uma estrada linda e que exige muito cuidado. Trata-se de um feito de engenharia impressionante para os dias de hoje, imaginem na década de 30 (do século passado) quando foi construída escavada na rocha !  As muretas de proteção são baixinhas (talvez uns 50 cm de altura), além disso existem vários pontos em que o degelo forma uma cascata na lateral da pista inundando-a. Em outros pontos temos neve nas laterais da pista, isso sem contar que os despenhadeiros são de meter medo a quem tem cagaço de altura como é o meu caso. 













Mas não adianta, você tem medo, sabe dos riscos mas vai lá e encara novamente. É mais ou menos como dizia meu pai quando eu aparecia com um carro caindo aos pedaços: "-Homem quando cisma de comprar carro velho e casar com puta não adianta dar conselho!".................É, acho que hoje ele acrescentaria: "e andar de moto depois de velho!".



SERIA APENAS UM DESLOCAMENTO MAS QUASE VIRA UM BANQUETE...

Great Falls (MT) - Gardiner (MT) - 18 julho 2014

Sai de Great Falls, onde fiquei um dia descansando para o desafio de amanhã, e fui para Gardiner onde consegui uma cama num hostel. Quase todos os hoteis da região estão lotados e os poucos que tinham vaga cobravam 300 dólares a diária. Por esse preço durmo no Cafe Photo com 2 "primas" me embalando, com todo o respeito, naturalmente.
Como eu tinha tempo de sobra pois queria chegar no tal do hostel só na hora de dormir, fui mais devagar do que de hábito.

Passando por Shields River Valley deparei-me com essa estátua à beira da estrada. Trata-se do "Thunder Jack", uma escultura dedicada a  todos aqueles que desbravaram e viveram nas montanhas da região. Aproveitei e auto-nomeei-me  "Thunder Hélio" o que gostaria de desbravar e viver nas estradas. Um dia eu chego lá.







Chegando próximo a Gardiner, cerca de 40 ou 50 milhas, o rio Yellowstone corre paralelo à estrada que, por sua vez, corta a Gallatin National Forest formando paisagens lindas e que mereciam ser curtidas. O tempo sobrava e lá ia eu me deliciando. O problema é que tem coisas que só acontecem comigo e com o Botafogo. Na última parada que fiz, existia uma área bem larga para colocar a Helô em segurança, descer com calma, tirar o capacete e até mesmo as luvas, beber um gole d'água já meio morna, escolher os ângulos  adequados e fazer as fotos de praxe. Quanto terminei a sessão de fotos, vi que havia uma espécie de rebaixo um pouco mais distante da estrada e fui até lá na espectativa de ser um riacho. Quando cheguei perto havia apenas um filete de água e um monturo que, de início, não entendi o que era, cheguei mais perto e tomei um susto, era a carcaça de um animal (não muito pequeno) e partes de um outro  recém abatido. Meus amigos, os cabelos da sola do pé ( e de outros locais) arrepiaram. Interrompi a refeição de alguém e isso é uma ofensa muito grave. Bati uma foto (não tive coragem de fazer outras) e sai numa desabalada carreira, nem sei como prendi câmera, capacete e luvas na bagagem !  Parei mais na frente, na entrada de um rancho, arrumei a bagagem e fui direto para o hostel. Melhor ficar sem fazer nada do que virar comida de urso.





Até que o hostel era maneiro, o pessoal da recepção super-simpático, roupa de cama e toalhas limpas e ainda me serviram um drink como cortesia (e depois do susto eu precisava mesmo de "firmar o caráter") O quarto tinha duas beliches. Apenas uma cama estava ocupada por um baixinho com a cara toda arranhada. Depois vim saber que a mulher encheu-lhe de porrada, no que ela deve ter toda a razão. Baixinho é folgado prá cacete. 






Para fazer hora fui até o centro da cidade a cerca de 10 milhas. Uma deliciosa estação de inverno mas que no verão também tem um movimento muito grande, afinal é a entrada Norte para o Yellowstone National Park destino de turistas e motociclistas de todas as partes. Aproveitei para saborear uma cerveja geladinha e descobri minha xará, uma cerveja chamada "Helio".....coisas de botafoguense e motociclista....

Resolvi abastecer a moto e de repente vejo um grupo com um senhor de meia idade e umas 5 crianças, uma delas gritou para o adulto: "-Olha, brasileiro !". O cara veio falar comigo e disse que a mulher dele era brasileira e o garoto, sobrinho dela, também. Batemos um papo rápido e nos despedimos mas notei que o garoto (o nome era Pedro, e devia ter uns 8 a 9 anos) era introvertido e ficava de olho comprido na moto. Eles foram embora e eu continuei abastecendo, quando terminei, liguei a moto e saí, uns 2 quarteirões à frente vejo o grupo na beira da calçada, eu vinha no embalo mas alguma coisa me fez dar uma reduzida, ficar em pé no estribo, bater a mão  e gritar para ele: "-Fala Pedro !". Ví os olhos do moleque brilharem, afinal um motociclista (não importa que seja um velho encarquilhado), numa Harley Davidson reconheceu-o no meio de um monte de gringos !  Hoje, durante a viagem pela Beartooth vinha pensando, a gente discute soluções mirabolantes para o mundo e não consegue fazer porra nenhuma, por outro lado, uma ação pequena dessas pode dar uma alegria, mesmo que momentânea, para uma criança que está longe de casa. O engraçado é que parei para tomar uma cerveja e em pouco eles chegaram, a esposa e o sogro do cara também, ficamos batendo um papo muito gostoso, trocamos e-mails aumentando o circulo de energia positiva que envolve esta viagem. Muito bom isso.



"BEARTOOTH ROUTE", UMA EXPERIÊNCIA QUE JAMAIS SAIRÁ DA MEMÓRIA.

Gardiner (MT) - Hardin (MT) - 19 julho 2014

Saí hoje de manhã com destino a Cooke, onde tem início a famosa "Beartooth Route". Como já tenho alguma intimidade com o GPS, depois das aulas de meu amigo Netto "McGiver", programei o danado para Cooke e saí em campo. Estranhei um pouco ele mandar-me para esquerda (o caminho por onde eu vim). Parei, refiz a programação e ele insistiu, só faltando me chamar de idiota. Obedeci  e lá fui eu,cada vez mais desconfiado mas com preguiça de parar e abrir o "Road Atlas". O fato é que andei umas 40 milhas e resolvi parar. Conferí no Road Atlas e lá estava a 212, que liga Gardiner a Cooke a menos de 10 milhas do hostel onde eu estava hospedado. Tive que voltar as 40 milhas, agora sentando o sarrafo (80 a 90 milhas) e xingando o GPS de todas as formas até me lembrar que eu coloquei-o na modalidade "miserabilidade", aquela que evita estradas pedagiadas e a 212 sai de DENTRO do Yellowstone National Park, cujo ingresso custa 20 obamas. Mas tudo vale a pena quando a moto é uma HD e você tem que passar por onde tenho passado. A passagem pelo parque de Yellowstone é sempre agradável e aproveitei para fazer algumas fotos. 







O movimento de motos indo para Cooke era intenso. Grupos de mais de 10 motos eram uma constante. Cheguei em Cooke com a cidade tomada pelas motos. O que você vê de "braçada"  nesse meio não é brincadeira, principalmente nas manobras em postos de gasolina. Tem gente muito boa mas tem cada figura ! 





Voltando a "Beartooth Route", ela é uma seção da US-212, com cerca de 75 milhas, ligando Cooke a Red Lodge, ambos em Montana. Achei que não seria nada demais já que ano passado estive em Cooke para pegar a Chief Joseph Skyway, e para isto achei que tinha passado pelo início da Beartooth mas me enganei, ela começa logo depois da entrada da Chief Joseph. 


No começo, uma estrada que dá para manter 60 a 70 milhas sem problemas, curvas largas, com boa visibilidade, um visual muito bonito se esgueirando entre as arvores e as rochas das florestas de Custer e Shoshone mas nada que se comparasse ao que viria depois. Interessante é que a estrada começa em Montana, entra no Wyoming  terminando, novamente, em Montana.  














De repente, ela sai dessa região densamente arborizada e você se depara com as montanhas Beartooth, que fazem parte das Rochosas. É uma visão imponente e impressionante que nos remete à nossa exata dimensão. A estrada começa a subir embora a gente, olhando para cima, não consiga imaginar como ela vai chegar ao topo daquelas montanhas.  




A estrada é de uma pista apenas, estreita, em muitos pontos sem guard-rail e sobe zigue-zagueando aproveitando a topografia do terreno, onde curvas de 180 graus são uma constante.  A pilotagem tem que ser muito cuidadosa, principalmente quando você está do lado externo onde as incríveis paisagens podem roubar sua atenção. 














A melhor coisa a fazer é parar e curtir os absurdos lagos formados pelo degelo no fundo de um vale inacessível. Ou então, quando você estiver no Beartooth Pass, a 11 mil pés de altitude, olhar de cima os picos que formam a cadeia Beartooth com suas geleiras eternas.  







Eu não percorria meia milha sem me deparar com um cenário que, de alguma forma, mexia com minhas emoções. Muitos dirão que é a velhice (pode ser, realmente), outros que é exagero mas eu e a Helô sabemos muito bem que o azul do céu e a sensação de proximidade com o Criador fizeram de mim, por um momento, um ser humano melhor.  Foi um dos mais emocionantes roteiros que eu e a Helô fizemos.

Uma coisa que estranhei foi a quantidade impressionante de motos. "Bondes" enormes, "free-lance" mesmo só eu e um ou outro maluco. Fiquei encucado com aquilo mas quando cheguei a Red Lodge tudo se explicou. A cidade coalhada de motos era simplesmente o  20th Annual Beartooth Rally. Por isso os hotéis lotados e os preços nas alturas mas a cidade estava que era uma festa só. 







 Claro que aproveitei para dar minha circulada após trancar a Helô...Dia maravilhoso !





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