WATSON
LAKE (YK) – FORT NELSON (BC)
1 agosto 2016
Saimos logo cedo mas não sem antes o
Filipec dar uma bronca na mal humorada gerente do hotel. Afinal prometia uma
internet com acesso ilimitado e quando baixávamos DUAS fotos atingíamos nosso
limite e saiamos do ar. Em 10 minutos desisti e tentei fazer algo of-line.
Nunca vi internet tão ruim em nenhuma parte, inclusive no Brasil.
Bem, deixemos isso de lado e vamos ao
que interessa. Em Watson Lake esta localizada a famosa “Sign Post Forest”. Como
o nome diz, trata-se de uma verdadeira floresta de placas e objetos deixados por
viajantes que cruzam a Alaska Highway. Os gringos, que não são bobos, gostaram
e estimularam a prática organizando-a e fazendo inventário anual das placas e
objetos. Até 2015 somavam mais de 85.000. Senhoras voluntárias orientam a
todos, mantém um livro de presença e tem sempre palavras simpáticas para os
visitantes.
Procuramos placas de brasileiros que, quando
encontradas, foram fotografadas e exibidas neste post. Quem sabe alguém conhece os amigos que nos
antecederam.
O local tem um astral magnífico, penso
mesmo que fruto da energia deixada pelos viajantes que por aqui passaram e
registraram aqueles momentos de alegria e emoção. Afinal era como nos
sentíamos: alegres, felizes, celebrando
a vida com nossas inseparáveis escudeiras, Juanita e Helô. E a cereja do bolo,
dividindo a estrada como irmãos que sabem que viajar é preciso.
Não é pouca coisa amigos, não é
mesmo....
Para deixar registrada nossa passagem,
resolvemos deixar nossos velhos capacetes. Antigos elmos que levaram dois
cavaleiros errantes à terra dos sonhos. Testemunhas silenciosas das emoções que
nos assaltaram ao longo dos muitos quilômetros percorridos. Das risadas, dos
sustos, do medo e, por que nega-lo, das lágrimas. Que em alguns momentos foram
abundantes, na alegria e na tristeza. Mas a decisão estava tomada, os velhos
elmos mereciam um descanso e assim foi feito.
Os caras são tão organizados que colocam
à disposição dos viajantes, martelos, parafusadeiras elétricas, pregos e
parafusos.
Para mim entregaram um martelo e 4
pregos 18 para o Felipec uma parafusadeira elétrica e inúmeros parafusos. Com
certeza a senhorinha simpática olhou para mim e pensou: “-Esse velho cretino vai
tomar um choque da parafusadeira e infartar, melhor dar o martelo para ele.”
Depois de cumprirmos o ritual da
aposentadoria dos capacetes entramos na estrada e aceleramos para recuperar o
tempo perdido. A “perna” seria longa mas o dia estava lindo, coisa rara nestas
bandas, e a estrada excelente apesar de apenas uma pista. Iamos no maior embalo
quando vimos um bisão pastando a uns 50 metros da pista. Paramos, fotografamos
e pensamos: se esse sacana invade a pista o que fazer ! Saberíamos a resposta alguns quilômetros à
frente.
Quando vi o Filipe diminuindo a marcha
percebi que tinha algo na pista bem à frente. Na realidade não era algo mas sim
vários algos....e se moviam. Uma manada (ou boiada, ou alcateia, ou cáfila, ou
enxame, ou congresso nacional, ou uma bosta qualquer) de bisões pastando e
atravessando a estrada de um lado para outro. Como passar era a questão. Deixei
o Filipe ir na frente na esperança que o som do Vince Haines espantasse os
bichos mas acredito que são surdos. Nem levantaram a cabeça. Chegou a minha
vez, fui bem devagar, quando
cheguei à distancia de uma chifrada, mirei
o centro da estrada, fechei os olhos, acelerei e contei até três e abri os
olhos são e salvo. Claro que estava na
contra-mão mas o que é um p...do para
quem esta c.......do.
Depois dos bisões foi a vez dos
consertos na pista. Já estávamos elogiando quando apareceram as interrupções e
os “Pilot Car”. E dessa vez nos fazendo
perder muito tempo e para mim, que nunca pilotei uma HD no barro, foi o pior
deles. Chegamos a um trecho que a camada de terra fofa tinha mais de um palmo
de altura. A roda dianteira da Helô não parava reta e a traseira queria passar a
dianteira. Chegou a um ponto em que ela afundou na terra e atolou. Acelerei
como um coxinha encagaçado e dei um banho de terra e pedra na pick-up que vinha
colada na minha traseira. 1 a 0 tio Hélio. Vai andar colado na traseira do
Sarney (ou similar) pensei.
O fato é que matando baratas, à esquerda
e à direita, consegui vencer aquela barreira mas então despencou a chuva, como
sempre acontece neste país chamado
Canad’água.
Uma chuva forte com a temperatura
baixando constantemente além de uma bruma que não sabíamos se subia da estrada
ou eram nuvens baixas mesmo. O fato é que a pilotagem ficava bastante
complicada.
Seguimos assim por um bom tempo até que
a fome forçou-nos a parar. Não sei o nome do lugar, ao lado da estrada tinha
uma pista de pouso e um monomotor estacionado em sua cabeceira. Em volta morros
e uma cerração que começava quase nas suas bases e escondia os picos. Isso
explicava o monomotor asa baixa coberto.
Ninguém é louco de se aventurar num tempo desses, a não ser que se chamem Hélio
e Filipe.
A parada valeu a pena, comemos um
sanduiche maravilhoso chamado “Pata de Urso”, acompanhado daquelas batatas que
eles fritam com casca e tudo e vem pingando óleo de canola, para desespero da
Dra. Raquel, minha cardiologista. Um espetáculo.
Depois de tudo isso, o trecho até Fort
Nelson, onde nos hospedaríamos, foi mais fácil do que superfaturar um
navio-sonda. Coisa de amadores.....
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