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quinta-feira, 14 de julho de 2016

CANADA E ALASKA DE MOTO - 15



BRANDON (Manitoba) – MEDICINE HAT (Alberta)




14 julho 2016



Hoje foi mais um dia para não esquecer. 

Às vezes reluto postar, ou mesmo omito, certos acontecimentos preocupado pela forma como serão entendidos. Trata-se de uma grande bobagem, esta é a conclusão a que cheguei. Além de ser impossível agradar sempre seria um enorme egoísmo não compartilhar momentos alegres, tristes, engraçados porém emocionantes todos, com aqueles que se dispuserem a ler o post. Como já lembrei antes, existe a alternativa de ir direto para os quadrinhos (as fotos).

Vamos aos fatos. Esta noite dormi maravilhosamente e meu sono foi apenas uma vez interrompido por um sobressalto. Não sei se sonhei ou lembrei da tempestade de ontem e me imaginei num local deserto e o risco de um raio cair sobre meu capacete, afinal eu seria o ponto mais alto. Além do mais tenho dois pinos de platina na fíbula e cismei que essa bosta atrai raios. Depois de rir de minha preocupação acabei dormindo novamente.

Levantei às 5:30 hoje. A bagagem organizada e breakfast iniciando às 7:00 h deram-me tempo para arrumar a bagagem na Helô. Quando estava nessa faina, estacionou ao meu lado o carro de um hóspede, um senhor de uns 60 a 65 anos, chamado Adam, que começou uma conversa sobre a moto. A filha e o genro também são motociclistas e apaixonados pela Harley. Ele é descendente de poloneses e parece muito católico pois conhecia tudo sobre João Paulo II e o Papa Fracisco. Mostrou-me foto dos filhos, dos netos perguntou de onde eu era, sobre minha família, minha idade, com quem eu estava viajando, essas curiosidades que todos tem quando veem um velho meio maluco sobre uma Harley Davidson. Na hora que eu saia para pegar o resto da bagagem ele foi no porta-malas do carro, pegou uma lanterna de led e me deu de presente, além disso, pegou no porta-luvas do carro uma vela benta e também me deu. Claro que aceitei, agradeci e dei um adesivo do meu blog para ele dar filha. Depois de arrumar o reesto da bagagem, estava no tal do breakfast quando ele chega com esposa trazendo uma sacola. Para encurtar, na sacola tinham duas latas geladas de Pepsi, uma caixa de chocolate com amêndoas e 2 sabonetes Dove que a esposa sugeriu que eu usasse por causa da poeira da estrada. 

Quando eu já ia saindo, depois de muito agradecer, ele me deu um cartão telefônico para ligar para meus filhos e uma nota de VINTE DÓLARES, pois a gasolina nesta região era mais cara. Eu não quis aceitar de forma alguma mas foi impossível demove-lo. Não me restou saída senão pegar a nota, guarda-la separada e, quando voltar, vou pendura-la na parede da sala junto com os óculos do meu amigo Lupo que tirou-me do sufoco por ocasião de meu acidente na Itália. 

Depois desse episódio, inusitado na minha carreira de viajante, subi na Helô e começamos os trabalhos. A temperatura estava em 13 gráus, céu nublado, nuvens altas e sem chuva. Ótimo, pensei, vamos abrir o gás e ver até onde vamos. Rodei 130 milhas e quando olhei a gasolina estava na reserva, culpa da mão pesada. Abasteci, tirei água do joelho e pau na máquina novamente. Cheguei a Regina e a partir dali começou a chuva. No início pouca dando para manter as 70 milhas que estabeleci como velocidade de cruzeiro. Além da chuva, cidades e postos de gasolina a partir de Regina ficam muito distantes, às vezes 200 Km, lembra muito a Patagônia.

À medida em que a chuva foi aumentando, passei a reparar que eu estava quase sozinho na estrada. A região é quase plana, sem árvores e com imensos pastos. Num determinado momento olhei à frente aquele paredão de água se aproximando riscados por raios e me veio logo a imagem do sonho. “-Cacete, sair do Brasil para ser eletrocutado aqui !”, pensei. Não vi um lugar para me esconder a não ser uma pequena fazenda um pouco à frente. Acelerei a Helô, descobri a trilha que ia da estrada até a casa, embarafustei-me com a Helô por ela, quase cai umas 4 ou 5 vezes mas cheguei no centro do quintal. O cara que manobrava o trator nem olhou para minha cara e a jovem senhora que saia do galpão carregando uma sela parou e ficou esperando o que eu tinha a dizer. Expliquei minha situação, ela tranquilamente e de forma simpática disse que eu poderia colocar a Helô no estábulo e eu, se quisesse poderia ficar no trailer que estava aberto. Bem a Helô não gostou da história e preferiu ficar na chuva mesmo. Para o estábulo fui eu, aliás local de onde nunca deveria ter saído, segundo a oposição. E, a bem da verdade, me senti muito à vontade no estábulo diria que é quase meu habitat natural. 

Meia hora e a tempestade passou ficando só a chuva. Como já estou cascudo, agradeci muito e, rezando para não cair, atravessei a tal trilha de volta para a estrada.

Mais uma hora debaixo dágua, gasolina quase no fim, achei um posto e enquanto estava abastecendo um raio acertou um transformador com uma explosão que me fez largar a bico da bomba cagando a Helô de gasolina. Que susto do cacete.

Novamente espera uns 20 minutos e vamos em frente, a uns 100 Km de Medicine Hat a chuva parou, o que permitiu mais uma presepada de tio Hélio que aconselho a todos praticarem. É o seguinte, uma linha férrea corre paralela à estrada e numa das enormes retas, vi, em sentido contrário, uma grande composição cargueira. Diminui a velocidade, fui bem para o canto da pista, fiquei em pé sobre as plataformas, a mão direita na manete do acelerador e com a esquerda eu fazia sinal para o maquinista tocar a buzina do trem.O sinal é um que os milicos usam para pedir pressa aos comandados, como se estivesse puxando para cima e para baixo a cordinha da buzina do trem ou do caminhão. Meus amigos, eu já estava desistindo achando que ele não tinha me visto mas o sacana do maquinista viu e respondeu. Que coisa linda ! Que momento único ! Naquela hora, acima de quaisquer diferenças, dois seres humanos se uniram para celebrar a alegria de um encontro que certamente jamais se repetirá. 



Por hoje é só. Abraços e beijos regulamentares a quem de direito.












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