Lugo (SP) – Santiago de Compostela (SP)
21 maio 2015
O hotel em
que fiquei além das ótimas instalações, incluído garagem coberta, oferece um
desjejum a 3,50 euros onde o destaque é um “le croissant” que deve ser saboreado pensando-se, no
máximo, na mulher amada. Maravilhoso...
Arrumando a
tralha na moto o gerente, sempre muito atencioso, fez questão de vir se
despedir e perguntar se necessitava de algo.
Acabamos por trocar cartões de visita e fazer uma foto para registrar o momento. Realmente foi uma ótima opção o Los Olmos.
Acabamos por trocar cartões de visita e fazer uma foto para registrar o momento. Realmente foi uma ótima opção o Los Olmos.
Coloquei apenas
a cidade de Santiago de Compostela no
GPS já que ele não aceitava o endereço do hotel. “Vai ver que é viadagem do
Tomtom Macoute só porque acabou de acordar, mais tarde voltarei a tentar”,
pensei eu.
Como sempre
ele me mandou para a estrada principal, sem muito transito mas com uma
temperatura baixíssima para meus padrões. Lamento o tempo todo ter esquecido
minha “pescoceira” e minha luva de frio além de ter claustrofobia quando uso
capacete integral. O lance é que a
120-130 Km, o vento gelado batendo nas mãos, pescoço e nas fuças vai nos
desgastando, o que acaba influenciando negativamente na pilotagem que, a bem da
verdade da disciplina e da moral, já não é lá essas coisas. Antes que congelasse algumas importantes
partes de minha anatomia, resolvi pegar uma estrada da série B (a exemplo do Botafogo) onde foi possível estacionar,
enrolar a cachecol do Barça em volta do pescoço cobrindo boca, nariz e orelhas e,
depois de uma luta incrível, atarrachar o capacete por cima desse arranjo. O fato é que melhorou mas desconfio que isto foi
graças à estrada pois agora sim, eu estava no meu elemento: curvas de todos os
tipos, vegetação com a cor adequada, flores silvestres enfeitando as margens e
fazendo moldura para pequenas árvores amarelas. Pronto, o cenário estava
criado, a mim só restava não destoar. Esqueci
frio, luvas, capacete e as
faturas dos cartões de credito (vencidas e a vencer). Concentrei-me no bailado
que iríamos fazer, conversei baixinho com a Brigitte, combinamos alguns truques
e entramos em cena. Curvas feitas com técnica e aprumo. Algumas com uma certa
presepada confesso (afinal não se é um Rodrigues Silva impunemente) outras com
garra e determinação. Reflexos que eu julgava para sempre adormecidos deram o
ar de sua graça, enchendo-me de esperança em outros departamentos naturalmente
(se é que a senhorita me entende !).
Sair de uma curva em aclive à esquerda, o contra-esterço
inclinando elegantemente a moto para a próxima curva à direita, os pneus
mordendo o ponto de tangência junto ao
barranco que esconde o adivinhado ponto de saída, as rotações do motor no
patamar exigido pelos desafios às leis da física e da gravidade, o olhar
buscando alcançar o “ponto futuro” da
moto, as mãos suavemente apoiadas nas manoplas, tudo isso dava-me a certeza de
que, para um velho, não estava de todo mau o desempenho
E foi assim,
uma pilotagem maneira aqui, um frio ali, um cachorro perdido acolá que acabei
chegando na belíssima cidade de Santiago de Compostela. O Tomtom continuou
ignorando o endereço que passei, só mais tarde descobri que se você colocar
“Calle” ele não sabe do que se trata, tem que colocar “Rue” pois só fala francês o desinfeliz. Que nem meu amigo
Peixoto.
A Hospederia
Via Lucis é um capítulo à parte. Quando cheguei ao endereço não acreditei. “Mas
isto aqui é um Convento, Seminário ou algo do gênero”.
Sim era algo do gênero, uma “Casa Diocesana para Ejercicios Espirituales”. Eles tem 54 pequenos quartos com banheiro chamados de células construido em 1943 e impecavelmente mantido por uma ordem religiosa. Recebe peregrinos de todas as partes do mundo que utlizam todos os meios de locomoção: a pé, ônibus, bicicletas, automóveis e, acreditem, até mesmo uma moto ! Servem café da manhã, almoço e janta pagos à parte. As instalações são espartanas mas limpas e agradáveis. No centro do prédio há um jardim muito bem cuidado onde as pessoas se aquecem ao sol enquanto leem ou colocam a correspondência em dia usando o wi-fi.
Sim era algo do gênero, uma “Casa Diocesana para Ejercicios Espirituales”. Eles tem 54 pequenos quartos com banheiro chamados de células construido em 1943 e impecavelmente mantido por uma ordem religiosa. Recebe peregrinos de todas as partes do mundo que utlizam todos os meios de locomoção: a pé, ônibus, bicicletas, automóveis e, acreditem, até mesmo uma moto ! Servem café da manhã, almoço e janta pagos à parte. As instalações são espartanas mas limpas e agradáveis. No centro do prédio há um jardim muito bem cuidado onde as pessoas se aquecem ao sol enquanto leem ou colocam a correspondência em dia usando o wi-fi.
Gostei tanto
da cidade e da Casa Diocesana que fiquei mais dois dias. Valeu a pena, a
energia que as envolve é singular. Marcou-me para sempre.
Eu sabia que
Santiago de Compostela era um dos 3 grandes destinos mundial de peregrinação
cristã junto com Vaticano e Jerusalém porém nada muito mais do que isso. Embora existam
inúmeras versões para a origem de Santiago de Compostela, tento resumir a que
mais me agradou: no século IX a Espanha tal como é hoje não existia, haviam
feudos e burgos autônomos governados por seus senhores em permanente luta para
manter e ampliar seus domínios, seja através de alianças políticas, casamentos
ou, mais frequentemente, pela força das armas. O rei Afonso II das Astúrias,
além da luta com os muçulmanos, estava às voltas com rebeliões internas
estimulando uma secessão que enfraquecia seu poder perante os outros
potentados. quando tomou conhecimento de uma notícia que se espalhava como um
rastilho de pólvora pelo continente: a descoberta do túmulo de Santiago Maior,
um dos apóstolos de Jesus, e seus
discípulos Teodoro e Atánasio. Segundo a lenda, uma estrela (stellae)
indicou a Paio, o Eremita, um campo (campus), onde estariam os corpos e isto
gerou uma importância religiosa enorme ao local, estimulada que foi pelo bispo
Teodomiro. Afonso II aproveitou-se dessa oportunidade e declarou-se o único e
genuíno representante da tradição em matéria de religião e leis, para com isso
assegurar a unicidade do poder. Fez uma peregrinação ao local tornando-se,
segundo a tradição, o primeiro peregrino de Santiago. Mandou construir, às suas
expensas, uma igreja a quem concedeu privilégios e fundou uma povoação à sua
volta. Com isso, Afonso II, conseguiu encontrar um padroeiro para sua causa
contra os mulçumanos.
O nome
Compostela tem várias versões, seria até mesmo o nome de uma mulher que teria
acompanhado Santiago Zebedeu mas prefiro, por cavalheirismo, ficar com o vindo
do latim: “campus” + “stellae” = Compostela.
Apenas para
encerrar, Santiago de Compostela tem cerca de 100.000 habitantes dos quais
30.000 alunos da conceituada Universidade de Santiago de Compostela, que
abrange 19 Faculdades, fundada em 1495 e PÚBLICA.
Antes de
sermos oficialmente descobertos eles já fundavam Universidades públicas, talvez
isso explique alguma coisa.
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