São João da Pesqueira – Miranda do Douro
30 maio 2015
Depois do dia
de ontem, o que será que ainda iria me impressionar ? Pobre de mim, eu estava
na Europa, mais precisamente em Portugal, onde estradas aguardam motociclistas
dispostos a percorre-las porém sem deixar de ler e sentir suas histórias,
aromas e sabores. Não é pouco, não é
pouco, podem ter certeza. Em uma pequena aldeia você encontra ruínas do Império
Romano Na saída daquela curva onde você
está vibrando com o contra-esterço perfeito e a moto na inclinação correta você
se surpreende com o muro de pedra da era medieval. Ao sair do café, onde parou
para tirar a “água do joelho”, se espanta com uma igreja do século X, não vista
na chegada pela premência do aflitivo momento.
Esta região
do Douro é onde se concentram vinícolas e quintas. O rio Douro corre, melhor
seria dizer passeia, numa espécie de vale formado por montanhas onde se plantam
videiras a perder de vista formando desenhos
que acompanham as dobras das encostas. A estrada fica numa posição mais
alta o que permite apreciar cenários que, ao mesmo tempo lindos, podem se
tornar perigosos caso o gajo se distraia. Recomendo parar, fazer as fotos e
orar agradecendo o privilégio do momento.
Miranda do
Douro, a última cidade antes de entrar na Espanha é belíssima, com pedaços de história que não podem ser
ignorados.
Logo na
chegada vi, ao longe, uma igreja e um grande muro de pedra. O frentista do
posto de gasolina disse que era a Catedral e o Castelo. Pronto, foi o
suficiente. Precisava de um dia de folga para descansar e colocar a escrita em
dia. Acabei ficando mais um dia e estou terminando de relatar estes últimos 3
ou 4 dias. Hoje fui visitar o tal castelo, na realidade não era bem isso mas
sim coisa muito melhor. Peguei a moto e fui seguindo as torres da Catedral e
cheguei ao local. Meus amigos, uma cidade medieval inteira me esperava cercada
por uma muralha de pedra e incrivelmente conservada com ajuda da Comunidade
Europeia. O melhor de tudo é a
possibilidade de entrar carros e motos em seu interior pois o calçamento foi
refeito, nos padrões próximos ao original e, em alguns locais, só moto passa
devido à largura das vielas, que foram mantidas as originais. A Catedral, do
século XVI, foi construída sobre os alicerces de uma igreja do século XIII que
ruiu e isso criou um fato que chama a atenção. Como a igreja antiga servia como
cemitério, costume muito comum na época, o piso da Catedral é todo de lajes
móveis sob as quais estão sepultadas inúmeras pessoas. Algumas com inscrições
originais gravadas nas pedras.
O reconquista
cristã do vale do Douro ao Islã, durante os séculos IX a XI, deveu-se à
implantação de castelos como base de fortificação territorial. Três séculos
depois, em 1286, foi incorporada uma estrutura militar ao castelo gótico, construída
por Don Diniz no século XIII, que por
ficar no alto de uma elevação dominava o istmo entre os rios Douro e Fresno. No final do século XV, com a
invenção da pólvora foi preciso reforçar as defesas e colocar bocas de fogo.
Alguns bispos moraram ali até ficar pronto o palácio episcopal.
Em 1710 a
cidade foi tomada à traição (dizem que um sargento-mor Pimentel a entregou aos
espanhóis que penetraram pela chamada “porta da traição” que ainda hoje pode
ser vista.
Em 1762 foi
parcialmente demolido pela explosão do paiol de pólvora quando a cidade foi
tomada por Carlos III da Espanha, na guerra dos 7 anos.
Jamais me
atreverei a julgar fatos históricos e acho engraçadíssimo quando vejo alguém
tentando fazê-lo. Penso que julgamentos devem ser feitos por pessoas que
detenham todo o aparato, técnico e emocional para a tarefa. Por exemplo,
conhecer leis, costumes e hábitos de uma época. Além disso ter acesso à todas
as informações relativas ao evento, vale dizer: o ambiente em que se deu, as
motivações, provas, contra-provas e tudo o mais que faria parte de um processo.
Não basta um historiador deitar falação para aquilo ser considerado uma prova
válida. Por fim o mais importante,
fundamental até no julgamento de um ladrão de galinhas. O amplo direito à
defesa que, no caso, fica prejudicado pois é um julgamento onde existem apenas
“juízes” e “promotores”, na sua maioria já com
a sentença debaixo do braço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário