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sexta-feira, 8 de junho de 2018

AMERICAS TOUR 2018 - 5

APROVEITANDO UMA VIAGEM CURTA PARA TREINAR...

Bristol (VA) - Alcoa (TN) 8 junho 2018

Resolvidos os problemas legais da Helô sinto-me bem mais leve. Para comemorar isso aproveitei que estamos nas redondezas e decidi pelo Rabo do Dragão (Tail of the Dragon). Para quem não conhece é um trecho de 11 milhas da 129, entre North Carolina e Tennessee com 318 curvas. Mas não são curvas comuns, são curvas em sequência, bem acentuadas, muitas em cotovelo, que não perdoam o menor erro e mal dão tempo do infeliz piloto respirar. Além do que, a estrada, apesar do asfalto perfeito e curvas com inclinação, é estreita e de mão dupla atravessando uma floresta. De um lado um barranco, do outro uma ribanceira sem guard-rails em quase todo o percurso. A única vantagem, que às vezes se transforma numa armadilha é a proibição para caminhões e carretas utilizarem-na. Acontece que muitos caminhoneiros não conhecem a região e vem se guiando pelo GPS que, claro, indica a 129 como caminho mais curto. Pronto, você acabou de conhecer o grande terror dos motociclistas: dar de cara com um monstro desses. E eles não tem como voltar, é impossível manobrar. Imaginem uma carreta tentando voltar na Serra do Rio do Rastro....
Bem, mas isso é papo de maluco e viciados em adrenalina, ou seja: TODOS os motociclistas-motoqueiros (que significa a mesma coisa).
Voltando ao dia de ontem, decisão tomada de pegar o Dragão pelo rabo, começa a procura por hotel no site "HOTELS.COM". Gosto de usar por ser prático e a cada 10 diárias acumuladas recebo uma (o valor da média das 10) gratuita. Inclusive no Brasil. Notei que os preços estavam nas alturas (alta estação e fim de semana). Tentei um hotel que adoro (Two Wheel) com garagem para moto inclusive mas eles só reservam por telefone. Liguei e graças a São
Cypriano as velhotas não atenderam Adivinharam que era um velho brasileiro que fala um idioma parecido com russo. Assim foi que me restou um hotel sem-vergonha em Alcoa, a 30 milhas do Rabo do Dragão (50 dólares a diária com micro-ondas, freezer, hi-fi decente, estacionamento, café da manhã e uma recepcionista de mau com a vida).
Como era um tirinho de nada, cerca de 200 km, dormi até mais tarde e me dei até ao luxo de fazer waffle, naquelas frigideiras acopladas que a gente enche com aquela mistura visgosa que, por mais cuidado que você tenha, lambeca a mão a mesa, pinga na bota....um inferno. Foi legal por não ter ninguém para ver a lambança que fiz e também por me permitir deixar as frigideiras mais uma rodada para o waffle ficar torradinho. Quando abri, um lado do waffle estava da cor do joelho do Pelé, a solução foi colocar aquele tal de Syrup (desconfio que é óleo de cambio da HD).
Depois de toda essa confusão peguei a 81 cheia de caminhões, carros, retas e mais retas mas sem relaxar na pilotagem. Eu ia corrigindo os menores erros de postura. Olhar por sobre o para-brisas e não através dele. Isso me leva a manter a coluna ereta o que facilita a postura das mãos no guidom, com braço fazendo um ângulo de (+ ou -) 45 gráus com o antebraço. As manoplas seguras com firmeza porém sem aperta-las demasiadamente. Os 5 dedos em volta das manoplas e apenas em situações específicas os dedos da mão esquerda "cobrem" a manete da embreagem. O mesmo pode acontecer com a mão direita, onde os dedos indicador e polegar envolvem o acelerador e os três restantes a manete do freio dianteiro (em situaçôes específicas).
Aproveito para exercitar a visão periférica, sem desviar os olhos da estrada à frente, tento identificar o que se passa ao meu redor e acreditem, ajuda muito.
O fato é que a viagem passou muito rápido e quando cheguei ao hotel eram 11 e alguma coisa. O check-in só às 15. O que fazer para preencher o tempo, pensei. A alternativa foi rodar pelas redondezas e isso me levou diretamente para a 129. A região é belíssima e acabei chegando muito perto do Tail of the Dragon. A bagagem toda em cima da moto e eu pensando se valeria pena ou não encarar o desafio. Senti que a Helô não gostou muito da ideia mas fui conversando com ela que iria bem tranquilo, usando uma velocidade adequada à minha idade sem nenhuma presepada. Muito a contragosto ela aquiesceu e lá fomos nós. Eu respirando fundo, com muita tranquilidade, comecei o circuito com umas curvas bem comportadas, a Helô respirando aliviada mas pouco a pouco, o giro vai aumentando, as reduzidas dramáticas levam o giro lá para cima, em níveis de macho. As heróicas acelerações na saidas de curva ajudando a levantar a moto. A adrenalina, acompanhando os giros do motor, nos fazem sentir frio e calor ao mesmo tempo. Um pingo de suor cai na vista e arde mas não há tempo para frescuras, olho no ponto de tangência, um toque sutil no freio traseiro que não deve constar em nenhum manual de pilotagem mas foi São Cypriano quem sugeriu e com ele não discuto e a coisa começou a ficar muito boa. Voltei a ser o Hélio da praia do Flamengo que fazia defesa com mão trocada e vamo que vamo. A Helô puta dentro das calças gritava: "-Esse velho cretino vai dar PT em nós dois.". Até que, quase ao final, um motociclista em sentido contrário vinha fazendo sinal com a mão para eu reduzir. Polícia não é, pensei. Quando é polícia eles batem a mão em cima do capacete. Alguém deve ter caído, conclui ao mesmo tempo que reduzia a velocidade. Logo em seguida me aparecia uma carreta enorme fazendo a curva na contra-mão... O sacana errou o caminho e, ao invés de parar e esperar pela polícia, resolveu seguir em frente de qualquer forma. Nunca vi acontecer isto nas 5 vezes que fiz o Dragão. Mas hoje foi o dia. Cheguei encharcado de suor, louco para beber um litro d'água e contar para vocês. Foi mais um dia que valeu a pena como são todos aqueles em que você presta atenção naquilo que nos cerca. As árvores hoje, por exemplo, estavam dando um show de beleza, o verde estava com uma tonalidade incrível. Acho que a cirurgia de catarata foi um sucesso mesmo.
Grande abraço moçada. Vou ficar três dias por aqui, preciso lavar a roupa e dar um trato na Helô.












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